quinta-feira, 10 de agosto de 2017

Marta (PJ Vulter)

Há vinte anos, uma onda levou a vida de Marta... mas o seu fantasma ficou. Agora, espera-se da sua irmã mais nova, Teresa, que seja tudo o que Marta não foi, e essa expectativa faz com que todos os olhares da vila estejam presos nela. Vivem-se tempos conturbados, pois a mudança que afectou outros países começa a querer fazer-se sentir também em Portugal, mas a mão do regime é pesada para aqueles que o ousam desafiar. Ainda assim, Teresa aspira a algo diferente da prisão do casamento arranjado que a espera em Peixelim, e, com a ajuda dos primos, espera alcançar o sonho de uma vida livre noutro lugar. Mas há grandes segredos no passado da sua família e os únicos que podem realmente ajudá-la têm também problemas seus a resolver...
História de segredos familiares em tempos de "moral e bons costumes", um dos primeiros aspectos a cativar neste livro é Marta. Marta, que apesar de dar nome ao livro, não é propriamente a sua protagonista, mas antes o nome do passado que influencia todas as personagens mais relevantes. E isto é interessante por duas razões: primeiro, pela forma como a história de Marta influencia todo o percurso das restantes personagens. E, segundo, pela forma como essa mesma história é contada, prolongando o mistério até às últimas páginas e insinuando possibilidades que só mesmo no fim serão confirmadas ou desmentidas.
Claro que também há uma contrapartida: é que a história de Marta é tão interessante como a de Teresa e dos seus aliados. E, ao ser contada numa retrospectiva relativamente breve, deixa uma certa impressão de que mais haveria para dizer. Seria interessante conhecer as emoções e apreensões de Marta da mesma forma que as de Teresa são desenvolvidas, o que acaba por deixar alguma curiosidade insatisfeita. Ainda assim, o essencial da história está lá e, quanto à influência que esta exerce nos restantes... bem, dificilmente poderia ser maior.
Há ainda um outro aspecto que se destaca: a forma como o que parece ser apenas um caso familiar, ainda que de contornos invulgarmente complexos, se entrelaça, com o desenrolar dos acontecimentos, nas acções subversivas e de resistência ao regime em que várias personagens parecem estar envolvidas. Ora, isto é interessante, desde logo, porque acrescenta um lado mais duro à imagem inicial de uma adesão severa às normais sociais. Mas também tem outro efeito curioso: é que há personagens que, vistas à luz dos seus comportamentos, despertam tudo menos empatia - mas que, nos momentos complicados, acabam por revelar uma nova faceta. Faceta essa que não os absolve, mas que, de certa forma, realça a sua humanidade, mostrando-os como algo mais do que simples vilões.
Tudo somado, fica a impressão de um livro relativamente breve, mas muito cativante na sua teia de mistérios. Intrigante, surpreendente e bastante emotivo, podia ser talvez um bocadinho mais longo, mas não deixa por isso de ser uma boa leitura. 

Título: Marta
Autor: PJ Vulter
Origem: Recebido para crítica

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