terça-feira, 21 de fevereiro de 2017

A Rainha Perfeitíssima (Paula Veiga)

Esposa e irmã de reis, desde muito cedo destinada ao trono de Portugal, Leonor de Lencastre viria a deixar para a história um enorme legado na ajuda aos mais desfavorecidos. Mas nem só de sucessos e alegrias foi feita a sua história. Vivendo em tempos conturbados, viu familiares envolvidos em conspirações contra o rei, as pretensões do seu marido de legitimar um filho bastardo e o seu próprio filho morrer prematuramente em circunstâncias misteriosas. E, perante tudo isso, manteve a dignidade e o propósito. Tudo isto e mais nos conta este livro. 
Uma das primeiras coisas que importa dizer sobre este livro é que, apesar de ter uma figura central bem evidente, não se cinge propriamente ao percurso e as vivências da sua protagonista. Muito pelo contrário. Mais que o percurso da rainha, é o meio em que se move, o contexto, os acontecimentos históricos - mortes, nascimentos, casamentos, guerras... - sucedidos durante a sua vida. E, assim sendo, fica desde logo uma impressão muito clara: a de que, apesar de narrada em grande parte na primeira pessoa, esta história se concentra mais nos acontecimentos que nas personagens, criando por isso uma certa impressão de distância.
Não deixa de ser uma leitura envolvente, para isso contribuindo os capítulos curtos e o óbvio interesse dos vários acontecimentos relatados. Fica, sim, a curiosidade em conhecer mais do lado humano das personagens, que, tendo em conta a forma breve como os acontecimentos são narrados e o vasto leque de situações e figuras que acompanha, acaba por ficar para segundo plano. Mas não deixa de ser uma história muito interessante, quer pela relevância histórica das várias personagens, quer pela forma como, de memória em memória, acaba por se traçar um retrato bastante amplo do contexto da época. 
E, quanto à escrita, se é certo que alguns dos diálogos parecem, talvez, um pouco forçados, a impressão que sobressai é, ainda assim, a do contraste entre as partes narradas na primeira pessoa, que atenuam um pouco a tal distância causada pelo domínio dos acontecimentos sobre a construção das personagens, e as narradas na terceira pessoa, que expandem a visão para lá do conhecimento (já de si vasto) da rainha sobre os acontecimentos descritos. 
Tudo somado, fica a impressão de uma leitura que, em certos aspectos, deixa sentimentos ambíguos e perguntas sem resposta, mas que, apesar disso, consegue cativar e interessar desde as primeiras páginas e até ao fim. Uma boa história, em suma. 

Autora: Paula Veiga
Origem: Recebido para crítica

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