terça-feira, 10 de março de 2015

Quatro (Veronica Roth)

Um complemento e uma nova perspectiva sobre a história da trilogia Divergente: assim se poderia definir este conjunto de contos. Um conjunto que, tendo Quatro como protagonista e narrador, acrescenta novos elementos e cria paralelismos entre a história já conhecida e aquilo que de novo é revelado.
E isso surge, logo à partida, na breve Introdução, onde a autora explica, muito sucintamente, a origem destas histórias e a forma como se enquadram na cronologia da trilogia Divergente. Claro que, sendo Quatro uma personagem especialmente carismática, ver, ainda que em poucas linhas, a impressão que a própria autora tem dele desperta, desde logo, curiosidade para o que se seguirá.
A primeira história, A Transferência, apresenta Quatro na iminência de deixar a sua vida nos Abnegados e conquistar a sua libertação. Apesar de, de certa forma, o essencial dos acontecimentos já ser conhecido, pelo menos para quem leu a trilogia, vê-los narrados pela voz do protagonista torna tudo mais próximo e mais cativante. Envolvente, de ritmo intenso e bastante bem escrito, acrescenta, ao transmitir a sua perspectiva, algo de novo à história já conhecida de Quatro. A soma de tudo é, claro, uma boa história.
O Iniciado acompanha Quatro num período de iniciação que é tanto de superação de dificuldades físicas como de integração num lugar onde sente que talvez não pertença. A história desenvolve-se num delicado equilíbrio entre introspecção e descontracção, o que lhe confere, ao mesmo tempo, leveza e uma certa profundidade. Além disso, ao percurso pessoal de Quatro junta-se um conjunto de revelações que, deixando antever o que se seguirá, consolidam as ligações à trilogia, enquadrando o conto no contexto global. Tudo no habitual ritmo intenso e envolvente que facilmente se torna viciante.
O Filho apresenta uma nova oportunidade de progressão no percurso de Quatro, bem como o reencontro com uma parte mal explicada do seu passado. Tal como no conto anterior, há um equilíbrio entre o percurso pessoal e as mudanças que se preparam no contexto global, aliando uma sensação de proximidade para com o protagonista com a intensidade de uma história em que há sempre algo prestes a ser revelado. É isso, aliás, que faz com que, mesmo sabendo de antemão como algumas das situações se vão resolver, a história consiga ser surpreendente.
Em O Traidor, a história alcança os acontecimentos de Divergente, com a entrada em cena de Tris e a iminência de uma grande mudança a surgirem agora da perspectiva de Quatro. Mas há também um vasto conjunto de novos acontecimentos, o que faz com que a história deste conto seja mais que uma simples mudança de ponto de vista. Além disso, a posição de Quatro ante as descobertas com que se depara reflecte não só o muito que mudou, mas também os traços que o definem. Mais pessoal, mas igualmente intenso, é neste conto que se revela em pleno o lado mais vulnerável de Quatro, sendo, por isso, especialmente cativante no aspecto emotivo.
A estes quatro contos, seguem-se ainda três cenas do livro Divergente, agora contadas do ponto de vista de Quatro. Breves, e centradas em acontecimentos já conhecidos, estas pequenas cenas funcionam essencialmente como um agradável complemento à trilogia, já que, não havendo propriamente factos novos, há, ainda assim, uma nova - e muito interessante - perspectiva. 
Trata-se, portanto, de um muito cativante complemento à história já conhecida, revelando um lado novo de uma das personagens mais fortes da trilogia, ao mesmo tempo que acrescenta nova informação sobre o que aconteceu antes e - em certa medida - de que forma isso viria a influenciar o futuro. Intenso e envolvente, muito bom.

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