sexta-feira, 13 de março de 2015

A Quimera de Praga (Laini Taylor)

Karou pode ter um aspecto invulgar, mas, tanto quanto todos sabem, é apenas uma normal rapariga humana. Ou talvez não. Além da dedicação à escola de arte, Karou tem uma outra ocupação: viajar pelo mundo, através de portas que dão para todos os lugares, para fazer recados a Brimstone, a criatura que a criou desde bebé e a manteve segura ao longo de toda a sua vida. Mas há algo de novo a acontecer e a estranha tranquilidade da vida de Karou está prestes a desmoronar. Tudo começa com a marca de uma mão gravada a fogo numa das portas. E com os olhos de um estranho que a observam, sem reconhecer o seu papel numa guerra milenar.
Primeiro volume de uma trilogia em que o mundo humano se funde com o sobrenatural e mitos bem conhecidos se transformam em algo de diferente, este é um livro que, desde as primeiras páginas e até à derradeira frase, nunca deixa de surpreender. Cativante em todos os aspectos, conjuga uma escrita belíssima com uma história em que as emoções são intensas e o contexto onde tudo acontece é vasto e imensamente interessante. Mas vamos por partes.
Começando pelo contexto, uma das primeiras coisas a sobressair é a aura de mistério que começa com a natureza da própria Karou para depois se estender ao contexto global e às origens de tudo o que está a acontecer. Anjos e quimeras, dois lados em conflito, parecem definir barreiras bastante claras, mas a verdade das circunstâncias é bastante mais complexa e a autora desenvolve-a com brilhante mestria. O mundo das quimeras, por oposição ao mundo dos serafins, pode diferenciar-se como a luz da escuridão, já que cada lado tem as suas lendas sobre as suas origens e as dos outros. Mas todas as histórias têm mais que uma versão e a forma como elas são reveladas, com toda a informação relevante a ser apresentada de forma gradual e sem perder de vista as várias perspectivas, cria um mundo de vastíssimo potencial e o cenário perfeito para os acontecimentos que lhe estão destinados.
Se os mundos deste livro têm muito de fascinante, o que é certo é que as personagens não têm menos. Karou tem uma personalidade forte, que se evidencia desde os primeiros momentos e que abre caminho a um muito marcante percurso de descoberta, à medida que a sua busca pela sua verdadeira natureza se torna mais e mais premente. E quanto a Akiva, importa dizer que está muito próximo do ideal do protagonista atormentado pelo passado, caminhando na ténue linha entre o pecado e a redenção, num percurso em que o que faz é tão importante como o que deixa de fazer.
Da conjugação de cenário e personagens surge um enredo intenso, em que há sempre um mistério à espera de ser revelado, mas também momentos de acção intensa e de grande impacto emocional. E, claro, há possibilidades em aberto e perguntas sem resposta - ou não fosse este apenas o primeiro volume da trilogia. Mas, do muito que é narrado e do que é deixado ainda por contar, fica, sem dúvida alguma, a melhor das impressões, bem como as mais elevadas expectativas para o que se poderá seguir.
Magnificamente escrito, com um mundo tão fascinante como as personagens que o povoam e uma história que conjuga acção, mistério, emoção e o toque certo de humor, tudo numa harmonia sempre cativante e surpreendente, este é, pois, um livro que sobressai. Intenso, cativante e comovente nos momentos certos, um primeiro volume brilhante, que recomendo sem reservas.

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