sexta-feira, 6 de fevereiro de 2015

A Casa das Rosas (Andréa Zamorano)

Uma mulher que deixa para trás uma relação de contornos tenebrosos. A filha que conquista do pai um afecto que está longe de ser o desejado. A fuga da casa do monstro para um mundo em processo de mudança. E o regresso, as respostas e as novas perguntas. Eis o percurso de uma história em que o improvável e o muito real se confundem, num enredo em que tudo é mistério e, por isso mesmo, tudo é fascinante.
De todos os elementos que chamam a atenção neste livro, o primeiro a destacar-se é a escrita. E em vários aspectos. Primeiro, pela fluidez com que, de forma aparentemente simples, mas com um registo que se revela bastante peculiar, a história vai sendo narrada, percorrendo diferentes perspectivas e insinuando novos mistérios a partir de cada resposta. Depois, pela forma como esta mesma escrita se adapta a uma estrutura que, alternando entre vários pontos de vista e dando uma voz própria ao dono de cada um desses pontos de vista, introduz gradualmente a percepção de uma complexidade que, à primeira vista, parecia não existir.
O que acontece é que, ao mesmo tempo que parece ser uma versão deliberadamente sucinta do que talvez pudesse ser um percurso muito mais vasto, a história acaba por se mostrar como tendo precisamente o equilíbrio perfeito entre o que é revelado e o que fica por dizer. Há muito que é deixado à imaginação do leitor e, contudo, todas as questões essenciais estão lá. E, por isso, a impressão que fica é a de um mistério que se perpetua e que, ainda assim, se conclui de uma forma mais que satisfatória.
No fundo, tudo se conjuga num equilíbrio delicado, que se torna ainda mais fascinante pela multiplicidade de elementos que conjuga. As mudanças políticas e sociais têm um papel tão importante na história como a descoberta que a protagonista faz sobre si mesma ou o lado sombrio que se esconde na sua disfuncional vida familiar. E o mais interessante sendo todos eles importantes para a história, a sua conjugação forma um todo maior que a soma das partes, numa história em que, seja qual for o ponto marcante que se aponte, fica a impressão de que há ainda mais para descobrir.
Misterioso e fascinante, eis, pois, um livro tão cativante no que conta como no que insinua, como ainda no que deixa para o leitor imaginar. Com uma história enigmática e uma escrita belíssima, é, sem dúvida alguma, um livro que fica na memória. Muito bom.

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