terça-feira, 23 de setembro de 2014

Tríptico (Karin Slaughter)

A morte violenta de Aleesha Monroe, encontrada nas escadas no seu prédio, jazendo numa poça de sangue e com a língua cortada, desperta a atenção do agente especial Will Trent. Aparentemente, Aleesha não é a primeira vítima e, apesar das evidentes diferentes, há muitas pistas a apontar para um mesmo culpado. Mas, mais que isso, há sinais de algo no passado que poderá ter algo a ver com a situação. E, se dúvidas havia, o segundo corpo descoberto junto à casa do detective responsável pela investigação aponta claramente para a existência de uma ligação, ainda que, à partida, poucos a consigam compreender. Cabe, pois, a Will Trent, na sua mais que peculiar eficiência e infindável determinação, encontrar um caminho até às respostas. Mesmo que, a cada nova pista, surjam ainda mais graves suspeitas.
Sombrio e intenso desde os primeiros capítulos, este é um livro em que a violência dos crimes e a aparente indiferença de alguns possíveis envolvidos se cruzam com um enredo em que o passado das personagens é tão ou mais importante que o mistério em si, porque revela as suas naturezas. Neste aspecto, o contexto das vidas de personagens, quer do detective Ormewood, quer do próprio Will Trent, com as relações que, ao longo do enredo, vão sendo desvendadas, desempenha um papel fundamental para o desenvolvimento da intriga, ao mesmo tempo que torna mais fortes os sentimentos - positivos ou não - que as diferentes personagens despertam.
São esses tais sentimentos o ponto de partida para outro dos pontos fortes deste livro. É que, ao percorrer diferentes perspectivas, criando limites através das grandes revelações, a autora manipula a impressão que algumas das personagens passam para o leitor. Assim, quem começa por ser uma figura aparentemente simpática acaba por revelar um lado sombrio, enquanto que as peculiaridades de outros acabam por esconder um fundo mais complexo.
E, de entre a busca pelo culpado, dos segredos bem escondidos que surgem à superfície e dos momentos de perigo que surgem com o adensar da intriga, há ainda um elemento emocional particularmente marcante, na figura de John Shelley. Na sua perpétua luta pela integração, mesmo perante barreiras aparentemente inultrapassáveis, a empatia que esta personagem desperta, pelas circunstâncias em que se encontra, mas também pelo que lhe define a personalidade, acaba por ser um estranho ponto de luz num mar de escuridão. E também isso contribui para que este livro fique na memória.
Por último, falta falar de Will Trent. Peculiar em muitíssimos aspectos e, inicialmente, a fazer lembrar o também peculiar protagonista da série Pendergast, Will é uma personagem que, a cada nova revelação, se distancia mais da estranheza e em direcção ao carisma. No fim, ficam muitas perguntas sem resposta a seu respeito (ou não fosse este o primeiro volume de uma série), mas também uma imensa curiosidade em saber mais.
Intrigante desde as primeiras páginas e com um ritmo que cresce em intensidade a cada nova revelação, este é, pois, um livro que surpreende em todos os aspectos. Desde a fluidez da escrita à capacidade da autora de manipular a percepção do leitor sobre as personagens, tudo contribui para o impacto de uma história em que perigo e tensão se misturam com aquela medida exacta de emoção. O resultado não podia ser outra coisa que não brilhante. Recomendo sem reservas.

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