quinta-feira, 18 de setembro de 2014

O Amigo Andaluz (Alexander Söderberg)

Ao estabelecer uma ligação de empatia com um dos seus pacientes, a enfermeira Sophie Brinkmann está longe de imaginar as consequências e os caminhos nebulosos a que essa proximidade a conduzirá. É que o paciente é Hector Guzman, um homem afável e charmoso, e também um dos líderes de uma organização criminosa. Assim, o afecto de Hector vale a Sophie bastantes atenções indesejadas, tanto dos amigos de Hector como dos inimigos. E, quando o envolvimento da polícia se revela como ainda outra razão para temer, Sophie começa a compreender que a sua antiga vida acabou. E que os poucos aliados que lhe restam podem estar, também, em circunstâncias altamente instáveis.
Tendo como centro uma teia de intrigas relativamente complexa e, em consequência, um conjunto bastante vasto de personagens, este é um livro que começa por ser um pouco confuso, antes de se tornar cativante. A confusão deve-se, em grande medida, ao número de personagens que, logo à partida, o autor introduz, mas também à forma como o papel destas é desvendado. A princípio, são muitas as figuras a entrar em cena, mas quem são e porque estão ali é algo que é desvendado de forma gradual. Por isso, a impressão inicial é de estranheza.
Mas a estranheza tem também um lado positivo. É que esta revelação gradual dos factos e das personagens cria uma aura de mistério relativamente às figuras que se movem em terno de Sophie, o que, com o evoluir dos acontecimentos, e assimiladas as identidades dos principais intervenientes, torna a leitura bem mais intrigante. 
Um dos aspectos mais interessantes deste livro prende-se com o facto de, entre todas estas personagens e as forças a que pertencem, não haver propriamente um lado bom - ou, pelo menos, um facilmente identificável. Sophie está no centro de tudo e, curiosamente, parece ser o único elo de inocência, num enredo em que a manipulação e o abuso parecem tão familiares aos criminosos como às forças da autoridade. Também isto contribui para a tensão crescente que se sente ao longo da narrativa, principalmente devido à impressão de um cerco em que não há ninguém absolutamente confiável no caminho da protagonista.
Ainda falando das personagens, sobressaem os traços disfuncionais da vida de muitos dos intervenientes, o que, ainda que não justifique os seus comportamentos - nem parece, aliás, ser esse o objectivo - , torna mais fácil compreender algumas escolhas menos acertadas. Não são, entenda-se, personagens empáticas, nem o poderiam ser, tendo em conta o contexto. Ainda assim, as suas histórias tornam mais fácil assimilar o caminho em que se movem.
Por último, importa referir que este é o primeiro volume de uma trilogia e que, por isso, não surpreendem as muitas questões deixadas em aberto. Questões que, apesar de  tudo o que é narrado neste livro, revelam ainda muito potencial inexplorado nos rumos desta história, criando curiosidade para o que se seguirá.
A soma das partes resulta num livro que, sem nunca se tornar compulsivo, devido ao grande número de personagens e a alguma estranheza inicial, apresenta uma história intrigante, com vários momentos intensos e uma perspectiva algo perturbadora do potencial para a maldade em mãos poderosas. Um início interessante, portanto.

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