sexta-feira, 5 de setembro de 2014

A Incrível Viagem do Faquir que Ficou Fechado num Armário IKEA (Romain Puértolas)

Ajatashastru Larash Patel, faquir de profissão convenceu as gentes da sua aldeia de que precisava de ir até Paris para comprar o novo modelo de cama de pregos da IKEA. Foi apenas mais um truque engenhoso de entre os muitos com que convenceu a sua gente de que tinha poderes mágicos. Agora, Ajatashastru está prestes a concluir a sua missão, quando, subitamente, os seus planos começam a correr mal. Decidido a passar a noite na loja, vê-se obrigado a esconder-se num armário quando ouve as vozes de alguns trabalhadores. E é dentro desse armário que terá início a sua viagem através de vários países, para descobrir como se tornar uma pessoa melhor.
Improvável desde o ponto de partida e repleto de episódios caricatos, este livro é, na sua essência, uma comédia e, como tal, uma história para ser encarada com leveza e descontracção. Ao longo do enredo, abundam as situações peculiares, que, associadas a uma forma de narrar a história também ela com um tom divertido, proporcionam uma leitura agradável e engraçada. E em que nem todas as soluções fazem lá muito sentido, é certo, mas em que há diversão e leveza quanto baste.
Este cenário algo inconsequente esconde algumas questões bastante sérias, nomeadamente no que diz respeito aos problemas da imigração ilegal e da forma como se lida com ela. É o contacto do protagonista com um grupo de imigrantes ilegais que o leva a questionar a sua forma de estar na vida e o conhecimento que adquire através do seu percurso chama atenção para uma situação muito relevante. Claro que a forma como Ajatashastru reage a esse conhecimento nem sempre é a que faz mais sentido, mas isso é algo que já é expectável, tendo em conta as suas características essenciais. Ainda assim, este assunto mais sério a surgir por entre o caricato da situação global torna a história mais equilibrada e mais interessante.
Quanto ao crescimento pessoal do protagonista, há também situações improváveis quanto baste e episódios deliberadamente caricatos. Mas, acima de tudo, há uma clara intenção de representar uma evolução positiva a nível de carácter e essa, ainda que nem sempre motivada pelas razões mais plausíveis, acaba por ser um dos grandes pontos fortes da história. Mesmo sem todas as respostas - a situação entre Ajatashastru e Gustave, por exemplo, acaba por se resolver de forma algo ambígua - , o resultado final é cativante. E a mensagem é bem clara, mesmo entre  tudo o que há de caricato.
Bastante simples, apesar de completamente improvável, esta é, pois, uma história leve e agradável, divertida no muito que tem de peculiar, mas séria quanto baste quando o assunto assim o exige. Invulgar e interessante, um bom livro para descontrair. Gostei.

Sem comentários:

Enviar um comentário