terça-feira, 24 de junho de 2014

As Luzes de Setembro (Carlos Ruiz Zafón)

A morte de Armand Sauvelle deixou a sua família em grandes dificuldades. Mas quando a situação parece cada vez mais insuportável, surge o que parece ser a oportunidade de uma vida. O fabricante de brinquedos Lazarus Jann oferece um emprego a Simone e uma casa onde ela poderá viver com os filhos. A Casa do Cabo pode bem ser o recomeço de que os Sauvelle precisavam. Mas há sombrios mistérios escondidos no fascinante lugar que é Cravenmoore. E Lazarus Jann carrega consigo um segredo terrível que, mais uma vez, está prestes a volta à vida.
Seguindo na mesma linha dos anteriores O Príncipe da Neblina e O Palácio da Meia-noite, este é um livro em que sobressaem, em primeiro lugar, os pontos comuns. Com escrita e história mais simples que as dos romances do Cemitério dos Livros Esquecidos, este é, tal como os anteriores, um livro mais simples, mais centrado na aventura e em que o mistério domina o ritmo dos acontecimentos. É também um livro em que o lado sombrio contrasta com a quase inocência dos protagonistas, dando forma a uma memória da juventude que os acompanhará ao longo da vida.
Este contraste é, aliás, o grande ponto forte deste livro que, não atingindo a complexidade de um A Sombra do Vento, consegue, ainda assim, ser igualmente cativante. Desde logo, a inocência dos protagonistas desperta empatia, ao mesmo tempo que o mistério de Cravenmoore cria uma interessante aura de mistério. E é o equilíbrio entre os dois elementos, a magia do crescimento e da descoberta - e, no caso de Irene, do que poderá, talvez, ser amor - em oposição à maldição das sombras que pairam sobre a terrível história de Lazarus, que cria um enredo que, apesar da sua simplicidade, consegue surpreender nos momentos mais intensos. E que nunca deixa de cativar.
Ainda um outro aspecto que marca nesta história é a forma como o lado sombrio da história de Lazarus se conjuga com um ambiente que, ainda que repleto de estranheza, consegue ser belo e fascinante. Os autómatos e os brinquedos de Cravenmoore, com tudo o que têm de mágico, são mais que a base para o segredo de Lazarus Jann. São também um reflexo da sua experiência. E há ainda um pequeno detalhe, discreto, mas interessante, que importa referir: a associação do enigmático Daniel Hoffman a certos acontecimentos globais acaba por acrescentar, ainda que de forma muito breve, um detalhe de algo mais vasto a uma história que é, na sua essência, simples e pessoal.
Simples, quase inocente, mas com um lado sombrio estranhamente fascinante, As Luzes de Setembro apresenta uma história cativante, com personagens interessantes e um final marcante e intenso. A soma de tudo isto é um livro que, mesmo sem ser especialmente complexo, acaba por ser, ainda assim, muito bom.

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