sexta-feira, 18 de abril de 2014

Há flores de plástico e gravilha a enterrar a memória (Paulo Alexandre e Castro)

A morte enquanto passagem para a eternidade, aos olhos dos que ficam e numa perspectiva que se expande para além do ritual. Assim se poderia definir, em poucas palavras, o tema central deste livro, de título longo, mas relativamente breve e muitíssimo interessante. Composto por um conjunto de poemas também eles maioritariamente breves, o retrato final que sobressai desta leitura é o de uma ponderação sobre a morte e sobre a vastidão do que ela representa.
E é de todas as possibilidades e questões a considerar que sobressai o que primeiro cativa neste conjunto de poemas. É que, sempre presente, ainda que, nalguns casos, discretamente, há uma quase história que se insinua nas palavras e que confere ao livro uma impressão de unidade. Ao mesmo tempo, dessa unidade definida pelas impressões da perda, surge uma perspectiva que é próxima e pessoal e que, por isso mesmo, dá ao leitor algo com que se identificar. Afinal, a morte é, ainda e sempre, algo de universal, pelo que é fácil reconhecer na perspectiva do sujeito poético os traços de uma experiência, ou de um núcleo de sentimentos, que todos, de alguma forma, reconhecem.
Se o impacto global do conteúdo é forte, também a forma como é moldado tem a sua força. Ainda que muitos dos poemas sejam breves, todos eles são, em si mesmos, uma obra completa. E, de cada um deles, há versos que se entranham na memória, palavras que evocam algo de diferente e, ao mesmo tempo de familiar. Bastam alguns poemas para tornar esta leitura memorável. O conhecimento do todo apenas acentua essa impressão.
O que fica, portanto, deste conjunto é a impressão de uma leitura breve, mas de complexidades surpreendentes, e com um olhar muito próximo, mas muito preciso, sobre um tema que é, afinal de contas, universal. Vale, pois, muito a pena ler este livro. Muito bom.

1 comentário:

  1. Cara Carla, muito grato pela sua preciosa leitura atenta e poética. Bem haja!

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