sexta-feira, 10 de janeiro de 2014

A Chama de Sevenwaters (Juliet Marillier)

Passaram dez anos desde o incêndio que a deixou marcada para sempre, e Maeve cresceu para aceitar o que a vida lhe deu. Mas nem só marcas físicas ficaram do fogo e, agora que a necessidade a obriga a regressar a Sevenwaters, todos os medos e inseguranças voltam a afluir-lhe ao pensamento. Ainda assim, o regresso não é algo a que se possa recusar, não quando as acções de Mac Dara ameaçam lançar a desgraça sobre Sevenwaters. E muito menos quando, ainda que não o saiba, a própria Maeve tem um papel fundamental a desempenhar no combate ao príncipe do Outro Mundo.
Último volume do regresso a Sevenwaters, este é um livro que une muitos pontos, dando respostas ao que tinha ficado em aberto e terminando, enfim, a longa estrada de algumas das personagens. Não surpreende, por isso, que este seja um livro particularmente emotivo. E essa emotividade nasce, desde logo, com a forma como Maeve começa a contar a sua história, com uma vaga melancolia que se insinua através da sua força e que, em poucas páginas, basta para gerar empatia. Além disso, se a voz de Maeve abre aos leitores o coração da sua protagonista, a sua forma de ver o mundo e as pessoas revela também as histórias e o coração dos outros. Com o evoluir do enredo e os muitos momentos intensos que vão surgindo, outras personagens se revelam no que fala ao coração, desde Finbar, sério para lá dos seus parcos anos, ao sempre misterioso e sempre impressionante Ciarán, cujo papel neste livro acaba por ser a mais impressionante e adequada conclusão para o seu longo percurso.
Da história propriamente dita, sobressaem a força dos momentos e a envolvência com que é contada. Não se pode dizer que sejam especialmente surpreendentes a identidade dos antagonistas ou a intervenção de algumas das personagens, mas a forma como a história é construída, sempre com uma impressão de proximidade às personagens, uma força emotiva em grandes e pequenos momentos e uma escrita sempre maravilhosa, compensa em muito esses momentos mais previsíveis, o que permite que a envolvência se mantenha, mesmo quando é fácil adivinhar o que vai acontecer.
E depois há a sensação de um fim atingido e de uma porta que se fecha - ainda que, talvez, não completamente. Não só para Maeve, com a sua luta e a sua superação, mas para todo um conjunto de conflitos - interiores ou entre mundos - que abrem caminho, em fim, para a paz possível. Mais uma vez, aqui é Ciarán que sobressai, Ciarán e a sua difícil escolha, mas há para todos - e para Sevenwaters em geral - uma conclusão adequada. E essa impressão acaba por ser estranhamente reconfortante.
Maravilhosamente escrito e repleto de momentos emotivos, eis, pois, um livro que, não sendo completamente surpreendente, cativa, ainda assim, quer pelas personagens, quer pelo enredo, quer pela beleza da escrita que molda esta história. Sempre envolvente e, por vezes, comovente, um final à altura para uma história fascinante. Muito bom.

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