quarta-feira, 4 de setembro de 2013

A História de uma Serva (Margaret Atwood)

Apenas uma parte do sistema rígido que constitui a República de Gileade, Defred acaba de ocupar o seu lugar como Serva na casa de um Comandante. A sua existência ali serve o único propósito de conceber uma criança para o senhor da casa. Tudo na sua vida é limitado e controlado. Para ir às compras, é acompanhada por uma sua igual. Não pode ler ou escrever e muito menos questionar o seu papel. Mas ainda recorda um tempo antes de Gileade, quando era uma mulher livre e independente, com uma família e um emprego. E questiona, ainda que não devesse. Ainda que as consequências para a transgressão sejam inevitáveis...
Sendo este um livro que é, muitas vezes, associado a distopias como 1984, uma das primeiras coisas que surpreende nesta leitura é o ritmo do enredo. O sistema é complexo, o material para reflexão é vastíssimo, mas nada disto faz com que a narrativa se torne densa. Narrado na primeira pessoa, todo o livro é construído num registo cativante, com a perspectiva pessoal da protagonista e a estrutura da sua história, entre o presente as recordações, a servirem de base a um enredo fluído e até viciante, construído sobre um mundo sólido e uma escrita de beleza cativante.
Todo este sistema é uma imensa base para reflexão, com uma série de questões relevantes a surgir. Do valor da liberdade ao papel da mulher na sociedade e à igualdade de direitos, passando pelo fundamentalismo religioso e a imposição de um regime ditatorial, cada situação é um ponto de partida para essas questões, desde o contexto global ao mais pequeno dos gestos. E o que torna tudo isto ainda mais fascinante é a forma como a autora desenvolve todos estes aspectos, com toda a profundidade que merecem, mas sem perder de vista a fluidez e a envolvência da história.
Porque é também uma história. A história de Defred e das suas memórias, da vida que tem e da que recorda, e de todos os que conheceu nesse percurso. Uma história que é, afinal, tão vasta e cativante como o sistema que lhe serve de base e que, com personagens bem desenvolvidas, uma protagonista imensamente carismática e um enredo cheio de momentos marcantes, acaba por ser fascinante em todos os aspectos.
Marcante do ponto de vista das questões que evoca, mas também pelo impacto da história individual da protagonista, este é, pois, um livro imperdível, e por todas as razões. Maravilhosamente escrito, com um sistema fascinante e uma história tão cativante como as suas personagens, cativa da primeira à última página. E fica na memória, depois. 

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