sexta-feira, 7 de junho de 2013

Lobo Vermelho (Liza Marklund)

Na sequência da investigação a um atentado ocorrido nos anos sessenta, Annika Bengtzon viaja até  Luleå para se encontrar com um jornalista a trabalhar no mesmo caso. Mas, ao chegar ao local, descobre que o colega foi assassinado de forma bastante violenta. Não pode ser apenas uma coincidência, mas, à medida que as pistas se acumulam, Annika descobre que talvez esteja a interferir com grandes interesses e, com o surgir de novas mortes, a situação ganha contornos mais complicados. Para prosseguir a investigação, Annika terá de desafiar os seus superiores, ao mesmo tempo que enfrenta alguma turbulência na sua vida pessoal. Mas nada a impedirá de encontrar as suas respostas. Ou, pelo menos, é isso que ela pensa.
Apesar de ter como ponto de partida uma morte em circunstâncias suspeitas, algo que cedo sobressai neste Lobo Vermelho, é que nem só do crime e da investigação vive a narrativa. Tão importantes como os crimes - e as pistas que encaminham protagonista e leitor para a sua resolução - são as histórias pessoais das personagens e o contexto mais vasto que, vindo de um passado já algo distante, justifica ainda muitos dos acontecimentos. O contexto político dos anos sessenta é um elemento determinante, não só para a compreensão das acções do provável culpado como também para seguir as movimentações de interesses políticos e comerciais associados ao caso.
Quando a histórias pessoais, destaca-se, é claro, a vida familiar da protagonista, assim como, ainda que em menor grau, os conflitos de uma das suas amigas. Em ambos, questões como casamentos anteriores, a relação com os filhos e a possibilidade de uma traição são elementos constantes que, além de tornarem as personagens mais completas, por lhes conferirem uma vida para lá das obrigações profissionais, reflectem também as suas vulnerabilidades, tornando-as assim mais humanas.
De toda a contextualização e do cruzamento entre os fios de diferentes possibilidades resulta, inevitavelmente, um enredo de ritmo relativamente pausado. Descrição quanto baste e momentos de introspecção contribuem também para este avanço lento das revelações. Ainda assim, isto não torna a história menos cativante, havendo, quer no percurso das personagens, quer no contexto em que se movem, sempre o suficiente para manter a envolvência e a curiosidade em saber mais. Além disso, à medida que elementos aparentemente divergentes revelam as suas verdadeiras associações, esta curiosidade torna-se mais forte, levando a um crescimento na intensidade do enredo, sempre intrigante, mesmo sem ser de leitura compulsiva.
Este é, assim, um policial que, sem se resumir ao crime e à revelação do culpado, explora diferentes elementos e diferentes facetas das suas personagens, desde convicções e afectos pessoais a ligações profissionais e papéis a desempenhar num contexto muito específico. Disto resulta um enredo cativante, ainda que não compulsivo, com momentos particularmente bem conseguidos e personagens que marcam pela sua humanidade. Um muito bom livro, portanto, e uma autora a seguir.

Sem comentários:

Enviar um comentário