terça-feira, 26 de março de 2013

Pedro, Lembrando Inês (Nuno Júdice)

Evocando o amor intemporal de Pedro e Inês, e, ao mesmo tempo, outras histórias e outros possíveis amores, este é um conjunto de poemas que, conjugando amor e nostalgia, cativam tanto pela mensagem e pelas imagens que evocam como pela forma como estas são construídas. Saudade e encanto, paixões e silêncios, descoberta e adeus: o amor é explorado em todas as suas facetas e, ao mesmo tempo, ora desenvolvido como algo ainda presente, ora percorrido como a recordação de algo que já foi. O resultado é uma impressão de universalidade, de uma expressão de um amor que poderia conter em si todos os amores: passados, presentes e futuros.
Esta possível universalidade contrasta com a percepção de algo que é, também, muito pessoal. Há um sujeito poético que lembra, que espera e que ama, e os sentimentos e memórias evocadas podem ser similares aos de muitos outros, mas são dele. Cria-se assim um interessante equilíbrio. Quem lê reconhecer-se-á, seguramente, em partes do sentimento evocado pelos poemas. Mas há um ser individual associado a esses poemas - o indivíduo que se expressa, que recorda - e esse sujeito poético, por mais semelhante que possa ser, por vezes, a outros - é único em si mesmo.
À força emocional do conteúdo e à beleza das imagens e sentimentos que transmite, junta-se ainda a harmonia da escrita. A nível formal, não há propriamente uma estrutura comum rígida, mas antes o que se pode reconhecer como uma identidade própria. O sujeito poético que se dirige a alguém, transmitindo algo pessoal nas palavras, é quase um protagonista, quase um narrador. E a evocação de cenários, quase descritos ou apenas insinuados, cria ainda um outro interessante contraste. Momentos há em que é o sentimento que sobressai, num tom de quase divagação, enquanto que, noutros, são as imagens, descritas quase que como parte de uma narrativa. Estes dois aspectos, conjugados, criam cenário e circunstâncias: o que o "eu" que recorda vê e o que sente, num todo equilibrado.
Este é, pois, um livro que, apesar da relativa brevidade, tem muito de bom para descobrir. A escrita é belíssima, o sentimento é intenso e genuíno e as imagens que o texto evoca funcionam como o perfeito complemento a esse lado mais emocional. Evocação de amor, ou de muitos amores, este é, sem dúvida, um livro que vale a pena ler.

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