sábado, 9 de março de 2013

O Rei dos Diamantes (Simon Tolkien)

David Swain está, há dois anos, na prisão devido ao homicídio de Ethan Mendel, amante da sua ex-namorada. Sempre disse nunca ter cometido o crime, mas as provas contra si eram esmagadoras. Apenas o inspector responsável pelo caso ficou com dúvidas sobre o resultado da investigação, mas não houve nada que pudesse fazer. Mas agora, um novo companheiro de cela recruta David para uma tentativa de fuga. E, no dia em que ambos escapam da prisão, a sua ex-namorada é encontrada morta, depois de ele ter invadido a casa. A história ameaça repetir-se. Todas as provas indicam a sua culpa e apenas o inspector Trave acha que há algo mal explicado no sucedido. Mas o tio da vítima é também o amante da sua ex-mulher e a sua orientação do caso pode estar comprometida. Não é só a vida de David que está prestes a ser cortada. Também a sua carreira pode estar a chegar ao fim...
De ritmo relativamente pausado, mas com um tom enigmático e intrigante, O Rei dos Diamantes é um livro que, não sendo de leitura compulsiva, desperta curiosidade desde as primeiras páginas, tornando-se mais e mais fascinante à medida que novas possibilidades e revelações são apresentadas.  Os crimes são parte essencial do mistério, e a forma como o autor os desenvolve, levantando questões e suspeitas contra a aparente solidez das provas existentes, desperta curiosidade e a forma como os acontecimentos afectam as personagens, quer nas relações com o passado, quer nas consequências de escolhas presentes, criam empatia, revelando, ao mesmo tempo, personalidades complexas e carismáticas, mas também falíveis - e, por isso, completas nas suas vulnerabilidades.
É esta caracterização das personagens um dos grandes pontos fortes deste livro. Ainda que haja vilões facilmente reconhecíveis - ou, pelo menos, fáceis de identificar aos olhos de algumas personagens - as provas contraditórias e os conflitos de interesses tornam essa identificação um pouco menos óbvia. Além disso, não há personagens perfeitas. A fixação de Trave pela descoberta da verdade parece, por vezes, uma obsessão, contrastando com a vontade de Vanessa de ver o melhor no seu novo companheiro. O próprio Osman, com a sua atitude paciente e inofensiva, parece contrariar as suspeitas e acusações a ele dirigidas, pondo em causa a imediata suspeita evocada pelo sinistro Claes. Este ambiente de aparentes contradições, que não se aplica apenas à investigação, mas à própria atitude das personagens, adensa o mistério e, ao mesmo tempo, serve de base a vários momentos marcantes, quer no que respeita ao enigma da morte de Katya Osman quer na vida pessoal das personagens, que parece estar, muitas vezes, presente em todas as suas escolhas.
Ainda um outro ponto fulcral, que contribui em muito para o impacto das maiores revelações, é a relação com o passado e com a presença nazi na Bélgica. Aqui, o papel de Claes é determinante, primeiro porque a forma como a sua presença é desenvolvida suscita dúvidas no leitor (levando a questionar o real papel de Osman em toda a situação), e, depois, pelo mistério da sua própria história e de como esta condiciona muitos dos acontecimentos. Além disso, quer na ligação a este passado, quer na forma como todo o caso questiona a solidez do sistema (tanto na abordagem às provas apresentadas contra David como no duvidoso papel do inspector Macrae), surge também uma reflexão sobre a falibilidade da justiça, quando as influências se revelam poderosas. Uma questão sempre pertinente, que confere à narrativa algo mais de complexidade - e também de fascínio.
Misterioso, cativante e muitíssimo bem escrito, O Rei dos Diamantes apresenta um enredo tão complexo como as personagens que o protagonizam, num equilíbrio preciso entre o lado pessoal - e um pouco emotivo - da vida dos seus protagonistas e um caso que, questionando as regras do sistema, revela segredos e resolve os problemas de uma forma simplesmente fascinante. Recomendo.

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