terça-feira, 5 de março de 2013

Nova Lenda de Jardínia (Íris David Gomes)

Apesar de serem irmãs, Lucy e April não podiam ser mais diferentes. April odeia o orfanato, com todas as suas rígidas regras, e não pensa senão em fugir. Já Lucy sente-se bem com as normas e sente-se satisfeita com os seus hábitos e estudos. Mas a vida de ambas está prestes a mudar. Enviadas para passar férias em casa de uma avó que desconheciam, Lucy e April encontram-se com uma fada que lhes fala de profecias e do papel que têm a desempenhar no mundo de onde vieram e que se encontra, agora, quase dominado por uma entidade maligna. Sempre racional, Lucy tem dificuldade em acreditar, mas todas as dúvidas se desvanecem quando atravessam para o outro mundo. Aí, terão de encontrar aliados, despertar os seus poderes e salvar um mundo que depende de si. É essa a missão para que estão destinadas.
Muita magia e criaturas sobrenaturais de todo o tipo, num sistema bastante interessante e com algumas personagens particularmente promissoras, este é um livro que, seguindo a clássica ideia da luta entre o bem e o mal, cativa principalmente pelo ambiente misterioso, criado desde logo por um início que desperta muitas questões, e pela forma como os diferentes seres se relacionam. Ainda que as diferentes criaturas sejam relativamente familiares de outras histórias - duendes, sereias, centauros e dragões são elementos fáceis de reconhecer - a forma como a autora as apresenta tem algumas peculiaridades interessantes. E as relações entre os diferentes tipos de ser servem também de base para uma reflexão bastante pertinente, relativa aos preconceitos entre as diferentes raças, bem como a mestiços e cruzados.
Apesar de haver sempre algo a acontecer, há também uma considerável componente descritiva, até porque há bastantes diferenças entre os lugares onde decorre a acção. Isto torna o ritmo do enredo um pouco mais pausado, mas não ao ponto de se tornar monótono, já que cada novo cenário - e consequentes descrições - é acompanhado de acontecimentos e relações interessantes. Além disso, ainda que as protagonistas sejam April e Lucy, há partes da história em que elas passam para segundo plano, dando destaque a outras figuras que, diferentes nas características e no modo de agir, dão uma nova perspectiva ao que está a acontecer.
Há alguns pontos menos conseguidos, principalmente nas várias questões que são deixadas sem resposta (as razões para a criação do orfanato e o papel de quem o comanda são apenas parcialmente desenvolvidos) e na forma algo confusa como alguns momentos são narrados. Isto deve-se também a alguns lapsos de revisão, já que faltam palavras no meio de algumas frases, enquanto que outras parecem ser usadas num sentido diferente do habitual. Não é algo que ocorra com muito frequência, pelo que não prejudica demasiado o ritmo de leitura, mas são, ainda assim, lapsos facilmente detectáveis.
Tendo tudo isto em conta, a impressão que fica deste livro é a de uma história que, mesmo sem ser particularmente inovadora, consegue, ainda assim, ser envolvente e intrigante, despertando curiosidade em saber sempre um pouco mais sobre o mundo e as personagens que apresenta. Gostei.

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