terça-feira, 29 de janeiro de 2013

Todas as Palavras de Amor (Ana Casaca)

Depois de uma semana de paixão em Londres, Alice separa-se do seu apaixonado para prosseguir com a sua viagem de descoberta pessoal. Os dias foram intensos, despertando um amor que ela quer preservar. Escreve, por isso, para a morada que António lhe deu, e as suas cartas estão cheias de afecto e alegria. Mas o António que vive no lugar onde chegam as cartas não é o que ela conheceu em Londres, mas antes um padre cheio de dúvidas sobre si mesmo e que se sente confortado por aquelas palavras dirigidas a outro. As cartas sucedem-se e António retira conforto da sua leitura. Mas quando assuntos de família levam Alice a regressar, António decide que é necessário contar a verdade, mesmo que isso implique o fim do seu único conforto.
Com o amor como tema e uma história que se define essencialmente pela relação entre os protagonistas, não é propriamente surpreendente o facto de serem as emoções o ponto forte deste livro. A escrita tem um interessante toque de poesia, particularmente cativante tendo em conta o facto de grande parte da história surgir através das cartas, e o enredo é também cativante, quer pela forma como a relação entre os protagonistas evolui, quer pelas sombras dos seus respectivos passados. Mas é no afecto e na forma como este se expressa que está o que realmente marca neste livro, já que, com todos os defeitos que as personagens possam ter (e têm alguns), as suas naturezas parecem completar-se e as dúvidas e dificuldades que atravessam tornam fácil sentir alguma empatia para com eles.
O sentimento essencial desta história é o amor e é fácil reconhecê-lo, tanto nas acções ao longo do enredo, como nas palavras das cartas. Claro que há nestas alguns exageros - mas já dizia o poeta que todas as cartas de amor são ridículas - , mas é particularmente interessante ver como essas palavras se reflectem em acções, principalmente para os protagonistas, mas também para o casal amigo que, apesar da presença discreta, tem também uma história cativante.
Fica a sensação de que alguns aspectos da história poderiam ter sido mais desenvolvidos, principalmente no que diz respeito às relações familiares de Alice e ao seu passado antes da viagem. Não são elementos essenciais ao enredo, que funciona bastante bem tal como é, mas poderiam torná-lo um pouco mais complexo. O mesmo acontece com a história familiar que fez de António um padre sem vocação. As bases desse passado são revelados, mas haveria, talvez, mais para contar.
Leve e agradável, com uma história cativante e alguns momentos comoventes, este é, pois, um livro que, não sendo particularmente surpreendente, apresenta, ainda assim, uma boa história, com personagens interessantes e um final intenso e enternecedor. Uma boa leitura, portanto.

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