sexta-feira, 18 de janeiro de 2013

Irma Voth (Miriam Toews)

Aos dezanove anos, Irma Voth carrega consigo o segredo que levou a que a sua família partisse do Canadá para o México. Enquanto parte de uma comunidade menonita, Irma está habituada ao isolamento e à pobreza do lugar em que vive. E, mesmo tendo ousado casar com alguém de fora da comunidade, parece não haver forma de, algum dia, partir. Mas as mudanças começam a acontecer quando uma equipa de filmagens chega para produzir um filme sobre aquele lugar e Irma é convidada a integrar a equipa como tradutora. O problema é que a comunidade em geral - e o pai de Irma em particular - não estão muito receptivos à ideia de um filme sobre a sua forma de vida. E, quando a tensão começa a crescer, a única solução possível parece ser partir.
Narrado na primeira pessoa e num registo bastante pessoal, este é um livro que, apesar das peculiaridades da forma de vida dos menonitas, se centra essencialmente na história individual da protagonista. É claro que o meio a que pertence condiciona a sua forma de vida, e as diferenças são evidentes na dificuldade de interacção entre os menonitas e a equipa de filmagem, mas os problemas de Irma não resultam das regras da sua comunidade, e sim das atribulações, segredos e tragédias da sua vida familiar. 
Irma é uma protagonista jovem, pelo que é possível acompanhar parte do seu crescimento, não a nível físico, mas no que diz respeito à evolução das suas impressões do mundo e da vida. A mesma história familiar que a atormenta com sentimentos de culpa é também a razão para que Irma não conheça o mundo para lá do lugar em que vive. Assim, a chegada da equipa de filmagem surge como factor de mudança, já que, além de apresentar Irma a pessoas e pontos de vista diferentes, expande também a sua percepção da vida que viveu até então. Aceitar o convite para pertencer à equipa é apenas o primeiro passo para um caminho em direcção à independência, e esse caminho é narrado de uma forma muito íntima, abrindo ao leitor todos os sentimentos e pensamentos da protagonista.
Sendo um reflexo dos pensamentos e memórias de Irma, é natural que a escrita não seja particularmente elaborada. Na verdade, o estilo directo e sem grandes floreados parece adequar-se, na perfeição, à personalidade da protagonista, reflectindo as suas hesitações e vulnerabilidades e reforçando ainda um pouco mais a empatia que caracteriza a sua história. História que deixa várias questões em aberto, quer a nível do que acontece à família de Irma nos momentos em que esta está ausente, quer na forma como a história se encerra, deixando no ar várias possibilidades. Fica, é claro, a impressão de que mais haveria a dizer, nalguns aspectos, mas essa ausência de todas as respostas acaba por realçar o impacto da partida. O leitor não fica a saber tudo o que aconteceu, porque a própria Irma não o sabe.
Esta é, portanto, uma história que, apesar da sua caracterização de um modo de vida invulgar, se centra, acima de tudo, na existência individual de Irma, no que a define e nas suas relações com o mundo. Cativante e de leitura agradável, marca também pelos traços de melancolia que parecem surgir ao longo de toda a história, e que reforçam a proximidade que faz desta história uma boa leitura. Vale a pena ler.

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