segunda-feira, 28 de janeiro de 2013

A Marca do Herege (Susana Fortes)

Um cadáver encontrado na catedral de Santiago de Compostela e o inesperado desaparecimento de um códice antigo. À primeira vista, nada liga os dois acontecimentos. Mas basta a identidade da morta e algumas descobertas sobre os seus interesses e relações para que o mistério se adense. Patricia Pálmer teria ligações a um pequeno grupo ecológico e um interesse particular por mitos e crenças, com particular destaque para as doutrinas de Prisciliano. Ora este é precisamente o autor do livro desaparecido e, aparentemente, Patricia dedicou bastante tempo a estudar a sua história. As ligações começam a tornar-se evidentes. E, enquanto o comissário Lois Castro segue com a sua investigação, há dois jornalistas - um veterano e uma estagiária - que sentem também interesse pelo caso. Será o conjunto das conclusões de todos suficiente para desvendar o mistério?
Parte do que torna este livro cativante está na forma como a autora consegue conjugar uma série de temas bastante diferentes, apresentando informação relevante sobre todos sem nunca perder de vista a linha essencial do enredo. A base do mistério é a morte de Patricia e é a partir desse ponto que irão surgir todas as ramificações, quer as que têm uma relação directa com o que lhe aconteceu, quer com outras pistas que, partindo de Patricia, se expandem para o desvendar de outros crimes e de outros culpados. 
Esta conjugação de diferentes temáticas implica uma boa dose de contextualização, o que leva a que os acontecimentos evoluam a um ritmo bastante pausado. Ainda assim, muita da informação é interessante - sendo de destacar as questões relativas à heresia - e o mistério está sempre presente, o que faz com que, não sendo propriamente de leitura compulsiva, o enredo se mantenha envolvente e intrigante.
A nível de personagens, há um desenvolvimento bastante gradual dos protagonistas, particularmente evidente no passado misterioso - e revelado em pequenas e ocasionais doses de informações - da jovem jornalista. Este mistério e a forma como moldou a sua personalidade são parte do que a torna cativante, já que o seu temperamento peculiar define também as suas relações (ou falta de) com os colegas. Há um fantasma na vida de Laura Márquez e esse fantasma que a torna fechada, torna também mais interessante a sua relação com Villamil. Ainda que o desenvolvimento desta relação seja relativamente discreto, ficando a impressão de que mais poderia ser explorado sobre o assunto.
Envolvente e intrigante, apesar de um ritmo relativamente pausado, este é um livro que, partindo de vários temas interessantes, constrói para as suas personagens um mistério com alguns momentos inesperados, uma evolução cativante e um final que, respondendo a tudo aquilo que é esperado, deixa, ainda assim, algumas possibilidades interessantes em aberto. Uma boa leitura, em suma. Gostei. 

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