terça-feira, 27 de novembro de 2012

Cidade Proibida (Eduardo Pitta)

Martim faz parte de uma família privilegiada. Formou-se nas melhores condições e tem um bom emprego na empresa do padrinho. O ambiente em que vive é o da elite, com todo o snobismo e desinteresse a ele associado. Mas, apesar de uma vida em conformidade com as aparências, nem tudo é perfeito. A casa e a vida são partilhadas com Rupert, e o seu companheiro não se sente confortável com as regras do mundo em que tem de se envolver. A relação entre ambos complica-se e, à medida que as pequenas grandes memórias do passado se cruzam com as tensões do presente, a relação afigura-se cada vez mais como condenada ao fracasso. Tal como muitos dos contactos da vida de ambos.
Ainda que as figuras centrais desta história sejam Martim e Rupert, há muitas mais histórias e memórias pessoais a serem apresentadas. Este é um dos aspectos que primeiro surpreende, pela quantidade de histórias pessoais que se cruzam num livro que é, afinal, relativamente breve. Todos têm uma ligação mais ou menos próxima aos protagonistas, mas têm também uma vida antes e/ou depois dessa ligação. O resultado é um entrecruzar de passados, expostos de forma relativamente sucinta, mas permitindo uma visão bastante clara de cada personagem.
A estas muitas histórias cruzadas junta-se também um breve olhar sobre os grandes momentos do passado global, também eles abordados de forma sucinta e discreta, mas contribuindo para uma contextualização mais completa do ambiente em que decorrem as vidas das personagens. Há, portanto, toda uma base de caracterização a tornar fácil a percepção dos ambientes e das personagens que os habitam, bem como dos preconceitos e das mudanças de mentalidade. Fica, aliás, desses tantos passados expostos, a ideia de que mais poderia ter sido desenvolvido sobre as personagens que os protagonizam.
Apesar desta multiplicidade de histórias e de figuras a caracterizar, a componente descritiva não é particularmente extensa. Tudo é apresentado de forma breve e directa, quer a nível de descrição, quer no desenvolvimento dos acontecimentos. Não há, assim, grandes momentos parados, o que mantém a envolvência da leitura.
De referir, por último, o que parece ser o tema central de todas as histórias que se cruzam neste livro: o preconceito, não apenas relativamente à orientação sexual, mas também à fortuna e à posição social. É, aliás, este último que acaba por ditar a evolução da relação entre os protagonistas e acaba por ter a mesma relevância que as questões relativas à homossexualidade.
Trata-se, portanto, de um livro que, apesar de relativamente breve, aborda uma série de questões relevantes, num entrecruzar de histórias e de personagens que cativam tanto pela sua individualidade como pela ideia global que representam. Podiam, talvez, ter sido mais aprofundadas algumas situações ao longo do enredo. Ainda assim, tudo o que é essencial está lá, neste livro aparentemente simples, mas surpreendente em muitos aspectos. Gostei.

Sem comentários:

Enviar um comentário