quinta-feira, 25 de outubro de 2012

O Mercador de Livros Malditos (Marcello Simoni)

Ignazio de Toledo, mercador de relíquias, chega ao mosteiro onde deixou o seu segredo com muito mistério em seu redor e uma missão para aceitar. Um nobre das suas relações terá sido contactado por Vivïen de Narbonne, um amigo que, em tempos, lançou sobre si e sobre Ignazio a perseguição do tribunal secreto de uma organização poderosa. Vivïen tem, alegadamente, na sua posse um livro capaz de conceder vastos poderes a quem o souber usar e, por isso, o nobre decide pagar a Ignazio para lhe descobrir o livro. Mas a situação é bastante mais complexa do que, à primeira vista, parece. O conde Scalò é apenas uma peça dispensável num plano mais elaborado e, enquanto segue as pistas na direcção das componentes do Uter Ventorum, Ignazio vê-se novamente perseguido pela Santa Vehme. E, ainda que esta não seja tão coesa como seria de esperar, o objectivo de todas as suas facções é o mesmo e a sua influência pode tocar até os menos suspeitos. O perigo é inegável e pode estar onde menos se espera.
Capítulos curtos e um ritmo de acção constante são os grandes pontos fortes deste livro em que o mistério é a base essencial da história e não há momentos mortos no caminho da sua resolução. Todo o enigma criado em torno do Uter Ventorum, quer nas pistas deixadas para encontrar as suas partes, quer na sua própria natureza, tem muito de cativante, e a forma como este influencia, de diferentes formas, aqueles que nele têm algum interesse contribui para que também as personagens, cujo desenvolvimento é feito, em grande medida, na medida em que é necessário à acção, se revele nas suas qualidades mais marcantes.
Um dos elementos que mantêm a envolvência da narrativa é a preservação do mistério. As pistas são desvendadas aos poucos, motivadas por uma determinada acção e caminhando, de revelação em revelação, para um final em que, já com muitas questões esclarecidas, há, ainda assim, sempre algo mais a descobrir. Esta capacidade de despertar curiosidade, surpreendendo a cada novo pormenor, é uma das características que definem o ritmo viciante da leitura. E o mais curioso é que esta revelação gradual do mistério não diz respeito apenas à questão do Uter Ventorum e ao papel de Vivïen na situação. O próprio passado de Ignazio, com o segredo deixado no mosteiro e as sombras que parecem, por vezes, reflectir-se no seu temperamento, tem um mistério cuja verdadeira natureza só é revelada ao virar das últimas páginas. Acrescente-se, ainda, a história de Willalme, discreta, mas também com os seus pontos marcantes, e o resultado é uma história que, apesar de escrita de forma directa e sem grandes elaborações, consegue surpreender pelas personagens que a povoam e por aquilo que as define, mesmo quando isso parece ser secundário relativamente à sua busca.
Sendo um livro de cenário medieval, fica, principalmente na fase inicial do livro, a sensação de que mais poderia ser dito sobre o contexto em que decorre o enredo. Ainda assim, há pequenos pormenores que vão surgindo com a evolução da história e, terminada a leitura, torna-se evidente que não há nada de essencial que tenha ficado por dizer, e que esse desenvolvimento mais breve do cenário e do contexto da época é amplamente compensado pela intensidade dos acontecimentos e pela força das personagens.
Acção e mistério numa história de ritmo intenso e de leitura compulsiva fazem de O Mercador de Livros Malditos uma leitura envolvente, agradável e com um bom equilíbrio entre acção, mistério e um toque de emoção. Uma boa história, portanto, com personagens cativantes e vários momentos surpreendentes. Uma boa leitura.

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