domingo, 16 de setembro de 2012

Um Beijo em Havana (Michelle Jackson)

Quando Emma recebe uma carta do local de trabalho do falecido marido, as emoções da sua morte, sete meses anos, voltam a surgir em toda a sua dolorosa intensidade. Mas o conteúdo desse envelope irá mudar as suas vidas. Dois bilhetes para umas férias em Cuba, lugar que Emma sempre quis conhecer, e uma oportunidade que não pode ser desperdiçada, levam-na a convidar a irmã Sophie a fazer-lhe companhia. O que Emma não sabe é que essas férias estavam destinadas a Sophie e ao seu marido. Há muito segredos na relação entre as irmãs. Entretanto, enquanto Emma e Sophie conhecem novas pessoas em Cuba, Louise, a terceira irmã, cruza-se com o jovem com quem, no passado, teve um caso e ambos começam a questionar as relações em que estão envolvidos. Mas nenhuma relação é perfeita e, mais que o romance as aventuras das três, serão as ligações familiares a ser postas em causa por todos os segredos escondidos.
Leve e envolvente, mas com uma boa medida de dramas e tensões familiares, este é um livro em que as emoções são o aspecto dominante. Há algo de atracção e romance a decorrer ao longo do enredo, principalmente para Emma, ainda que as outras irmãs tenham também as suas próprias experiências, mas o foco central está na história e no conflito entre as três irmãs, e é esta tensão a base de muitas situações dramáticas e emotivas. Não surpreende, pois, que as diferenças de personalidade e modo de vida de Emma, Sophie e Louise sejam um dos aspectos mais interessantes e mais desenvolvidos da narrativa, pois, sendo três personagens tão diferentes, têm em comum os vários segredos na base de quase todos os conflitos deste livro.
O romance entre Emma e Felipe é bastante cativante, principalmente devido às dificuldades que ambos têm de ultrapassar por pertencerem a países tão diferentes, mas também por funcionar como um porto seguro no meio da tempestade familiar. Cria, portanto, um contraste, com a sua quase serenidade a opor-se às guerras e discussões que permeiam a vida das três irmãs. E é destas discussões que se evidencia uma questão interessante. A forma como as três assumiram diferentes papéis perante os pais e, mais tarde, perante as próprias vidas, realçando favoritismos e exigências e pondo em evidência também o que falhou no seu crescimento, retrata uma vida familiar turbulenta, mas que  tem, nas pequenas coisas, uma série de características fácil de conhecer, até porque todas as famílias têm conflitos.
Do conflito entre as três irmãs sobressai ainda a imensa diferença entre as suas personalidades. Na sua posição na vida, mas principalmente na relação com os outros e naquilo a que dão valor, Sophie, Louise e Emma surgem como figuras muito diferentes e se, para com algumas das tribulações delas é fácil sentir empatia, há outras atitudes, principalmente de Sophie, que chegam a ser irritantes. É aqui que fica a sensação que alguns dos conflitos podiam ter sido mais aprofundados, já que a resolução do problema entre as irmãs parece ser um pouco apressado.
Um outro aspecto que importa referir é o cuidado em realçar as diferenças culturais e em apresentar Cuba não só como o lugar de sonho que Emma sempre quis ver, mas explorando também as dificuldades e as complexidades da vida para os seus habitantes. A percepção de Emma deste aspecto negativo mostra, por um lado, o melhor da sua personalidade, e, por outro, permite uma visão mais completa das circunstâncias. É um aspecto relativamente secundário ao enredo (até porque nem toda a história decorre em Cuba), mas um dos seus pontos mais interessantes.
História de viagens e de amores, mas, principalmente, crónica de conflitos de uma vida familiar atribulada, Um Beijo em Havana, apresenta uma história cativante, com personagens empáticas e outras longe de o ser, mas em que o conflito e as dificuldades se aproximam sempre da recuperação possível. Gostei de ler.

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