domingo, 23 de setembro de 2012

Não Odiarei (Izzeldin Abuelaish)

Nasceu e cresceu num campo de refugiados de Jabalia. A mãe ensinou-lhe a importância do trabalho e os meios de sobreviver e os professores mostraram-lhe que, com esforço e persistência, podia chegar longe. Atravessou todas as dificuldades para se tornar médico e dedicou-se a ajudar os mais desfavorecidos, ao mesmo tempo que lutava para passar uma mensagem de paz. Por fim, encontrou-se ele próprio com a tragédia, ao perder três das filhas num ataque à sua casa, mas, mesmo assim, Izzeldin Abuelaish recusa-se a odiar. Este livro é a sua história... e a sua mensagem de paz.
Apesar de ser, essencialmente, uma história pessoal, nota-se, neste livro, também o cuidado em apresentar ao leitores os acontecimentos mais relevantes do conflito entre israelitas e palestinianos. Esta é, aliás, a razão que leva a que a leitura seja relativamente pausada, pois há todo um conjunto de dados a assimilar, quer no que toca aos principais momentos do conflito, quer dos nomes e dos lugares onde esses momentos decorrem. Este lado de exposição dos factos torna-se também algo distante, a nível emocional, em contraste com a história pessoal de Izzeldin e, em particular, com o impacto da tragédia narrada nos capítulos finais. Pois é o lado pessoal o que mais impressiona e o que reforça a mensagem do autor contra o ódio e a vingança.
Quando escreve sobre a sua própria história, toda a distância se desvanece. Os acontecimentos são narrados sem elaborações e com todo o impacto emocional de quem viveu a tragédia na primeira pessoa. Resulta, assim, que a empatia é quase inevitável, quer para com o jovem Izzeldin que luta por um futuro melhor para si e para os seus, quer para com o pai que se vê abraços com uma tragédia intolerável, mas que, ainda assim, encontra as forças para reagir e salvar o que ainda pode ser salvo.  E à história, que é, por si só, um exemplo de força, junta-se o impacto da visão que o autor tem do mundo, mesmo depois das perdas causadas pelo conflito. A recusa em ceder ao ódio, em ver todos nos gestos de alguns, numa posição admirável perante a vida.
Neste relato em que a frieza dos factos se conjuga com o fortíssimo impacto emocional da tragédia vivida na primeira pessoa, é tão importante a história como a mensagem. Finda a leitura, fica na memória a mensagem de paz vinda tanto da perda como de toda uma postura perante a vida e uma visão mais clara das consequências da guerra. E sobre tudo isto vale a pena reflectir...

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