quarta-feira, 26 de setembro de 2012

As Raízes do Medo (Jorge Durão)

Diz-se, entre as gentes, que aquela casa é assombrada e que, desde a morte do médico, os habitantes que ali restam parecem estar cada vez mais loucos. Mas Mariana precisa do dinheiro que o trabalho lhe garante e, por isso, continua a trabalhar para a velha senhora, mesmo tendo de conviver com o estranho comportamento do filho desta. Há um mistério, contudo, naquela casa, e Mariana quer descobrir a verdade. Mas cada pista que segue leva a mais estranheza e a consequências dramáticas e a maldição parece ser, cada vez mais, a única explicação possível para as mudanças operadas sobre aquela velha mulher que, em tempos, viveu uma emocionante história de amor proibido.
Sombrio e misterioso, este livro tem na forma como as duas linhas do enredo se conjugam um dos seus grandes pontos fortes. A história de Amélie e do seu amor que desafia convenções e determinações familiares, surge com a medida certa de drama e de sentimento, mas com o caminho orientado no sentido de um final feliz que, conhecido desde cedo, nem por isso tira impacto aos momentos mais dramáticos. Em oposição a esta história mais sentimental (ainda que também com os seus momentos sombrios) surge o enigma da maldição e os poderes que habitam o antigo solar, tendo como foco a investigação de Mariana e a forma como, gradualmente, o mistério revela a verdadeira dimensão da sua componente sobrenatural. São duas histórias separadas no tempo, mas com fortes ligações. E, ao alternar entre as duas histórias e as suas diferenças de panorama emocional, o autor consegue manter viva a envolvência e a curiosidade em saber mais. Disto resulta uma história cativante, que, apesar de algumas perguntas sem resposta e de um final algo apressado, consegue prender a atenção do leitor do início ao fim.
Há, a nível de escrita, alguns pequenos aspectos que quebram um pouco o ritmo da leitura, nomeadamente a nível de alguma confusão nos tempos verbais e de algumas frases mais forçadas, principalmente nos diálogos. Ainda assim, assimiladas estas particularidades do texto, a evolução do enredo sobrepõe-se a esses lapsos, levando a que, apesar da estranheza na construção de alguns momentos, a leitura se mantenha agradável.
Quanto às personagens, fica a impressão de que um pouco mais poderia ser dito do sucedido no tempo que separa a história do amor de Amélie da experiência de Mariana na sua casa. Ainda assim, retira-se dos seus comportamentos nas respectivas histórias o suficiente para as tornar cativantes e para manter vivo o interesse em saber o que lhes acontecerá. Além disso, tendo em conta a conclusão da história, a relativa ambiguidade de algumas relações acaba por se revelar adequada.
Fica, pois, desta leitura, a ideia de uma história envolvente, com as medidas certas de mistério e de emoção e que, apesar de algumas fragilidades a nível de escrita, consegue manter a envolvência e captar a atenção do leitor. Uma boa história, portanto, e uma leitura agradável. Gostei de ler.

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