terça-feira, 11 de setembro de 2012

As Luzes nas Casas dos Outros (Chiara Gamberale)

Quando se tornou a administradora do condomínio num prédio da rua Grotta Perfetta, Maria mudou as vidas dos habitantes daquele lugar. Era uma mulher especial, que acreditava que era preciso dar à vida algo de fantasia e ouvir os problemas dos outros, mais que simplesmente as questões práticas da vida no prédio. Foi assim que conquistou os corações de todos. É por isso que, quando a tragédia acontece e Maria morre num acidente de mota, todos os condóminos se juntam para decidir como ajudar a criança que Maria deixa sem mãe. Mas a situação é mais complicada do que julgam e, quando descobrem uma carta em que Maria diz que o pai de Mandorla é um dos homens daquele prédio, a única opção que lhes parece possível, para não destruir as suas vidas, é que, em vez de descobrir quem é o pai de Mandorla, todos os habitantes do prédio se tornem numa família para a criança. Mandorla ganha, então, cinco famílias. Mas como pode ela adaptar-se a uma vida tão diferente da de todos os que conhece, principalmente quando tem tanta vontade de saber quem é o pai?
Narrada, em grande parte, pela voz da protagonista, à qual se juntam os episódios que definem a vida das restantes personagens, antes e depois de Mandorla, esta é uma história que cativa, em primeiro lugar, pelo curioso equilíbrio entre o peculiar e o enternecedor da história. Há, desde logo, algo de caricato na estranheza da situação em que os habitantes do prédio se vêem envolvido, com as diferentes rotinas das cinco famílias e Mandorla como segredo comum de todos. Mas as peculiaridades não se limitam a estas circunstâncias. Também as relações entre as diferentes famílias, o crescimento de Mandorla e a sua inadaptação ao mundo e às pessoas com quem interage e a forma como alguns dos segredos são revelados tem o seu quê de estranho e de invulgar. Ainda assim, é também nestes mesmos aspectos que se encontra aquele toque de ternura, a inocência da visão de Mandorla ante um mundo que não compreende por completo e que torna enternecedores até os mais simples dos momentos.
Também no estilo de escrita se nota o mesmo contraste. Simples e directa na exposição dos acontecimentos, adequada à percepção que Mandorla tem do mundo e das coisas, a narrativa flui sem grandes elaborações. Contudo, esta simplicidade contrasta e completa a intensidade das emoções de Mandorla, que, expressas também de forma muito peculiar e, por vezes, particularmente marcante, surpreendem pelo impacto emocional que despertam.
Simultaneamente caricata e enternecedora, esta é, pois, uma história que conjuga as medidas certas de inocência e emoção com uma história que surpreende pela peculiaridade das circunstâncias. É, também, um livro com uma história envolvente, uma protagonista para com a qual é fácil sentir empatia e uma linha de acontecimentos rica em momentos ternos e surpreendentes. Muito bom, portanto.

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