quinta-feira, 6 de setembro de 2012

A Casa da Felicidade (Edith Wharton)

Lily Bart é, como alguns dos seus conhecidos a definem, uma rapariga bonita dependente de familiares sovinas. Apesar de algumas limitações a nível de dinheiro, Lily convive com os ricos. Os passatempos que com eles partilha são, aliás, uma das principais razões dos seus constrangimentos financeiros. Assim, Lily vê-se na necessidade de conseguir um bom casamento o mais rapidamente possível. Mas, enquanto que, nalguns aspectos do convívio social, a sua mente é capaz de planear estratégias brilhantes, noutros é a inocência que se sobrepõe à vontade e à manipulação. Lily deixa-se enredar em situações complicadas, sem ver que se aproxima do escândalo. E se há algo que a sociedade não perdoa é a perda da boa reputação...
Centrada, em grande medida, nos meandros do convívio social e no retrato de uma sociedade em que a preservação da reputação se sobrepõe a qualquer outro valor, não é de surpreender a forte componente descritiva deste livro e, consequentemente, o ritmo pausado. Os hábitos do meio em que Lily se move, a forma como amizades e interesses são moldados por questões de fortuna e classe e, principalmente, as manipulações e as transgressões que se escondem sob a obrigação de manter uma imagem imaculada são aspectos relatados ao pormenor, no que é um retrato claro - e não muito lisonjeiro - do sistema e da mentalidade da época. Isto torna a leitura lenta, é certo, até porque há muitos detalhes a assimilar, mas cria também uma boa base para compreender um pouco melhor os dilemas e as dificuldades da protagonista.
A própria Lily é uma personagem complexa e, por vezes, difícil de entender. A sua natureza tem tanto da capacidade manipuladora resultante dos meios em que se move como da inocência de quem, na verdade, nada fez de censurável e que, por isso, não compreende as razões para as suas circunstâncias. Ora constrói planos para conseguir aquilo que pretende, ora deixa ruir as suas possibilidades porque algo dentro de si questiona o que essas acções farão à sua verdadeira essência. E, no meio de tudo isto, há um sentimento forte - a palavra que não consegue ser encontrada - para justificar, sem que a própria Lily o saiba, a dificuldade de pôr em causa as melhores das suas escolhas. Assim, o percurso da sua queda em desgraça acaba por ter sempre uma razão maior que os seus erros e a sua relação de mal-entendidos com Selden acaba por ter um papel determinante no rumo das suas acções.
Enquanto história de amor - porque o é, também, ainda que este pareça surgir de forma algo discreta - e enquanto jornada de crescimento, a história de Lily é tudo menos feliz. Ainda assim, há algo de terno na forma como, apesar das convenções sociais e de alguma indecisão por parte da própria Lily, o afecto acaba por ter um papel tão importante nas suas escolhas. Mesmo demonstrados de forma discreta - discrição que acaba por aumentar a intensidade do final da narrativa - o amor e a afeição acabam por estar sempre presentes.
Pausado, complexo e muito descritivo, dificilmente se poderá considerar este livro como uma leitura fácil. Há, ainda assim, muito de bom para descobrir desta obra, desde a caracterização complexa e detalhada de costumes e mentalidade à forma como estes hábitos moldam o pensamento, as acções e até mesmo os afectos dos seus protagonistas. E só isso já basta para que a leitura valha a pena.

1 comentário:

  1. Olá, eu sou brasileira e encontro dificuldade em achar o livro em português ! Uma pena, pois eu estou louca para ler!

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