quinta-feira, 30 de agosto de 2012

A Cruz de Esmeraldas (Cristina Torrão)

Afonso Henriques prepara-se para conquistar Lisboa com a ajuda dos cruzados. Um deles, Konrad, deixou para trás a promessa de uma vida estável para reconquistar, na Terra Santa, a honra e o estatuto que a fraqueza do pai lhe roubou, ao deixá-lo e ao irmão na miséria. Mas a vida reserva-lhe um destino diferente, até porque o mesmo irmão que o acompanha com relutância acaba por lhe impor uma obrigação que o forçará a permanecer em Portugal. Mas nem só essa obrigação o espera, pois, para lá das muralhas que o parecem fascinar, vive Aischa, a moura a quem a mãe disse estar destinada a pertencer a um cruzado e que tomará posse do coração de Konrad.
Escrita cativante e uma história rica em aventura em mistério são duas das melhores características deste livro em que a história particular de Konrad e Aischa se junta à visão mais global da história da conquista de Lisboa e das barreiras culturais que, na época, opunham cristãos a muçulmanos, para dar forma a uma narrativa envolvente, com uma boa caracterização do contexto histórico e um equilíbrio muito bem conseguido entre romance, mistério e conflito.
Tendo Konrad e Aischa como figuras centrais da história, e sendo o romance entre ambos um dos pontos centrais (mas não o único) do enredo, também a caracterização das personagens é um ponto importante para que a leitura seja cativante. E também este aspecto tem muito de cativante. Saídos, à partida, de mundos opostos, a moura e o cruzado representam na perfeição as diferenças entre as culturas a que pertencem. Mesmo quando a relação entre ambos começa a crescer, a diferença de mentalidades manifesta-se, por vezes, de forma involuntária (e, particularmente, nos comportamentos de Konrad), para lembrar as suas divergências. E isto expande-se também a personagens mais secundárias, já que são os companheiros de Konrad os primeiros a dar voz aos preconceitos, criando alguns momentos realmente revoltantes - mas também bastante credíveis, considerando o contexto em que decorrem. 
Conflitos e preconceitos à parte, ou talvez precisamente por eles, é fácil sentir empatia para com as personagens. Mesmo nos seus momentos de maior autoritarismo, as razões de Konrad são quase sempre as melhores e os valores que o movem, mesmo nas circunstâncias mais... constrangedoras, aumentam o seu carisma. E Aischa, forte apesar da complexidade das circunstâncias, cativa pela forma como, mesmo vulnerável, aprende a controlar o pouco da sua vida que está ao seu alcance.
Para lá do romance entre os protagonistas, cativante, por si só, devido ao percurso de dificuldades e superação de grandes barreiras que representa, importa ainda referir a história da conquista de Lisboa e o mistério da cruz de esmeraldas. Aparentemente secundários relativamente à aventura dos protagonistas, estes dois aspectos do enredo tornam a narrativa mais completa e, ao mesmo tempo, permitem uma visão mais clara da perspectiva global (no caso da história da conquista) ou um enquadramento dos protagonistas (no caso do mistério da cruz) na história da época. Também isto contribui para manter a envolvência da narrativa, já que permite uma compreensão mais vasta do papel das personagens na época que vivem.
Trata-se portanto, de uma obra envolvente, com uma escrita fluída e agradável e personagens carismáticas. Uma história que tem muito de romance, mas também muito mais para descobrir. Muito bom.

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