sexta-feira, 27 de julho de 2012

Ben-Hur (Lew Wallace)

Judah Ben-Hur, o filho de um príncipe de Jerusalém, vive na prosperidade que a sua posição lhe confere apesar da autoridade romana. Mas tudo muda no dia em que, ao debruçar-se para assistir ao cortejo, o jovem derruba uma telha que atinge o novo governador romano. Não passa de um acidente, é certo, mas os romanos vêem as coisas de outra forma, principalmente a partir do momento em que Messala, em tempos um amigo, mas agora obcecado pela superioridade da sua raça, é o primeiro a proferir acusações. Judah é condenado a servir como escravo nas galés e a sua família é aprisionada. As últimas palavras do jovem judeu são, por isso, de vingança e, quando as intrigas do destino o arrancam, por fim, à pena a que foi destinado, é a queda de Messala que, juntamente com a busca da sua família, tomam o domínio dos seus pensamentos. Mas há mais a acontecer, naquele tempo, e espalham-se novas de uma criança - que se tornará homem - e que está destinado a ser o Rei dos Judeus.
Ainda que, se for necessário nomear um protagonista para este livro, ele seja, inevitavelmente, Ben-Hur, também é certo que este livro está longe de se concentrar apenas na sua história. Na verdade, há duas linhas narrativas que, por vezes se tocam, e cujas relações se tornam mais evidentes com o evoluir do enredo, mas que começam por funcionar de forma quase independente. Os primeiros capítulos são, até, dedicados a essa narrativa, aparentemente secundária, que é a da chegada do Messias, centrando-se na caminhada dos magos do Oriente em busca do bebé que há-de ser Rei dos Judeus.
Para estas duas histórias tão diferentes, apesar dos seus muitos pontos em comum, há também ritmos diferentes. Todo o livro se caracteriza por um ritmo relativamente pausado e com uma extensa componente descritiva, mas estes aspectos são muito mais evidentes nos capítulos dedicados a Cristo que na parte da história que diz respeito a Ben-Hur e Messala. É nesta, aliás, que se encontra a maioria dos momentos mais marcantes (com a natural excepção dos acontecimentos finais, que dizem respeito a ambas as linhas de acontecimentos), os grandes pontos de viragem e as acções mais relevantes. Isto deve-se tanto à perspectiva mais pessoal dos acontecimentos, respeitantes a um núcleo mais reduzido de personagens e, por isso, mais próximos, como à caracterização mais completa da personalidade e do valor do protagonista.
Se, durante grande parte do enredo, as figuras principais de ambas as histórias mal se cruzam, já a fase final torna as ligações inevitáveis. Isto faz com que, por um lado, a história cresça em intensidade, até porque a descrição dos acontecimentos de Gólgota é particularmente impressionante, mas, por outro, leva a que a resolução de algumas questões surja de forma algo vaga. O que aconteceu, por fim, a Messala e a Iras e os passos que levaram, no fim, à forma de vida que é apresentada, nas últimas páginas, para Ben-Hur e a sua nova família, são aspectos descritos de forma demasiado sucinta, o que deixa a sensação de algumas perguntas sem resposta.
Dificilmente se poderá considerar este livro como uma leitura compulsiva, já que o ritmo pausado, as longas descrições e alguma dispersão nos acontecimentos das duas histórias que o constituem, exigem bastante atenção para acompanhar o passo dos eventos. Trata-se, ainda assim, de uma história complexa e cativante, com momentos realmente impressionantes e uma caracterização bastante precisa para a época e o ambiente apresentados. Uma obra interessante e uma boa leitura.

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