sexta-feira, 17 de fevereiro de 2012

Gota Vermelha de Chama Sagrada (Hilda Martins)

Um toque de mistério, bastante de nostalgia e uma certa ambiguidade de sentimentos são apenas alguns dos traços que definem o conjunto de poemas que dá forma a este livro, muitos deles bastante breves, outros um pouco mais longos, mas todos com um equilíbrio bastante preciso entre ritmos e harmonias, com a dimensão adequada para o que as palavras pretendem transmitir. 
Mensagens fortes, com uma vastidão de abordagens ao espectro sentimental (da saudade à revolta, passando pelos simples afectos do quotidiano e alcançando o que se sente na perda quase inexplicável) constroem uma certa diversidade a nível de temas, mantendo, ainda assim, uma evidente impressão de unidade. Cada poema é, por si só, um reflexo completo, mas há uma impressão mais forte que se retira da globalidade do livro.
Há um lado muito pessoal nestes poemas, algo que dá voz a sentimentos pessoais que, desta forma, são partilhados. Mas há também o tal toque de ambiguidade que faz com que a emoção não esteja exclusivamente ligada a uma experiência específica. Alguma abstracção faz com que os sentimentos evocados possam ser associados a diferentes formas e experiências de vida e isso faz com que diferentes leitores se possam identificar com a emoção expressa nos poemas.
E da emoção do sujeito poético transparecem imagens curiosas, algo abstractas, a contrastar com as súbitas referências de elementos concretos que ocasionalmente surgem no texto, evocando paralelismos e oposições entre a realidade e o imaginário, entre o que se é perante a vida e o que somos dentro de nós.
Breve, mas marcante tanto pela construção das imagens, como pela melodia formada pelas palavras e ainda pela força emocional que transparece dos poemas, este é um conjunto de poemas que surpreende e que fica na memória. Muito bom.

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