sábado, 8 de outubro de 2011

O Rei do Inverno (Bernard Cornwell)

Tudo começou com uma criança nascida numa noite de Inverno. Eram tempos sombrios para a Bretanha, com Merlim ausente e Artur banido do reino. Mas os verdadeiros problemas começam com a morte de Uther Pendragon, deixando uma criança indefesa num trono rodeado de inimigos. Tempos difíceis em que a figura de Artur construirá a sua fama, erguendo um sonho de paz... ameaçado, por vezes, pelos seus próprios erros.
Se há história que muitas vezes foi contada e adaptada, essa foi a da lenda arturiana. Mas o que Cornwell constrói neste livro é uma visão bem diferente do sobejamente conhecido enredo de magia e cavalaria. Esta é uma visão real, dura, concreta, de tempos igualmente duros, onde a crueldade anda de mãos dadas com os mais elevados valores e onde até a mais pequena das escolhas tem consequências. E Cornwell desenvolve este cenário de uma forma magistral.
Bastante pormenorizado, principalmente a nível de batalhas, a criação dos ambientes e das circunstâncias é precisa e completa, evocando uma imagem mental muito clara. A visão dos acontecimentos é realista: se a crença nos deuses de cada um é um elemento inevitável, são os homens quem, apesar de tudo, molda o decorrer dos acontecimentos. E as acções censuráveis, tais como os grandes actos de nobreza, são a marca que define um conjunto de personagens intensas, mas humanas (e, por isso, falíveis), das quais o expoente máximo é o próprio Artur. Carismático, homem de grandes valores e com uma consciência demasiado presente para o seu próprio bem, Artur é o herói e o admirado Senhor da Guerra, mas também o responsável por grandes perdas. Personagem louvável, mas falível, capaz de conquistar a lealdade dos homens com a mesma facilidade com que cria uma inimizade inexorável.
Com uma forte componente descritiva e muitos detalhes a assimilar, este é um livro para apreciar com calma, entrando aos poucos no mundo de um tempo distante, onde homens e as suas escolhas marcam o rumo dos tempos. É, também, uma história envolvente, escrita de forma magnífica e onde a força dos grandes momentos se conjuga com uma cuidada atenção ao pormenor. Intenso, cativante... Muito bom.

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