sexta-feira, 14 de outubro de 2011

O Cabalista de Praga (Marek Halter)

Tudo começou com uma promessa entre dois estudiosos da Cabala e com a certeza de que Deus realizaria a sua vontade. Viviam-se tempos contraditórios, marcados, por um lado, por uma considerável evolução do conhecimento, mas, por outro, pelos eternos conflitos religiosos. Mas o percurso de David Gans, testemunha da tal promessa e mestre do mais sábio rabi de Praga, será bastante mais que o de um observador. E quando poderes pouco considerados se manifestarem na realidade, a decisão de não agir terá a mesma gravidade que qualquer escolha de acção.
Algo que nunca deixa de cativar nos livros deste autor é a forma como as tradições judaicas são apresentadas, de forma acessível, mas sem simplificações. Neste caso, destacam -se a forma de vida (e as pequenas obsessões) dos estudiosos da Cabala, a sempre precária posição dos judeus nos conflitos religiosos e, principalmente, o mito do Golem. Na verdade, ainda que seja este último o ponto de origem para os momentos mais intensos do livro, não é o mais desenvolvido e o percurso de David apenas se cruza com esta poderosa figura numa fase muito avançada da narrativa.
Apesar de ser uma história contada na primeira pessoa e, independentemente dos momentos mais emotivos da narrativa (mais uma vez, associados ao Golem) são os acontecimentos que se destacam neste livro, e não as personagens. Assim, há elementos de interesse em vários dos intervenientes desta história (Eva, com a sua avidez de conhecimento; o MaHaRaL com a sua sabedoria superior; o próprio Golem, com a sua estranha humanidade), mas não é o desenvolvimento das personagens que se destaca. O resultado é um ritmo de acontecimentos mais rápido, ainda que fique a impressão de que mais poderia ser dito de algumas personagens.
Trata-se, pois, de uma história cativante e com alguns momentos particularmente intensos, principalmente na fase final da narrativa. E onde, ainda que mais pudesse ser dito sobre as figuras que a protagonizam, surgem também algumas questões interessantes, nomeadamente acerca de conflitos religiosos e da discriminação pela diferença. Uma boa leitura.

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