domingo, 6 de março de 2011

A Senhora Presidente (Anne Holt)

Noruega. Na sua primeira visita oficial, Helen Bentley, presidente dos Estados Unidos da América, desaparece do seu quarto. Ninguém a viu sair, nem aos seus captores. Tudo o que têm é uma mensagem e uma situação cheia de elementos inexplicáveis, mas capaz de abalar o rumo do mundo. E, entre os investigadores noruegueses e as agências americanas, nenhum dos quais parece particularmente disposto a cooperar, há um casal com um passado estranhamente ligado a algumas das principais figuras desta história e que, com todos os seus segredos, se verá, mais uma vez, arrastado para o centro dos problemas.
Diga-se, em primeiro lugar, que este não é o habitual thriller de ritmo compulsivo, já que os elementos associados aos mecanismos de segurança nacional, aos interesses políticos e às relações internacionais são exploradas com bastante pormenor. Há, na verdade, uma longa exploração dos elementos de conflito entre as autoridades norueguesas e americanas (e sua difícil cooperação, face a uma relativa divergência de prioridades), bem como das consequências políticas e económicas implicadas no desaparecimento da figura da chefe de estado. Ainda assim, estes momentos de contextualização parecem equilibrar-se com um progressivo crescimento a nível de intensidade, já que, entre os interesses de muitos, ninguém é aquilo que parece.
Há um vasto número de personagens e de linhas narrativas em convergência, tanto nos que rodeiam a investigação relativa ao desaparecimento da presidente como no respeitante aos seus inimigos. E, ainda que provoque um abrandamento inicial no ritmo de acontecimentos, esta dispersão acaba por criar uma visão mais ampla de toda a história, já que mesmo os elementos de menor importância ou cujas intervenções são pouco mais que momentâneas permitem um vislumbre por trás das suas histórias e do que os colocou na sua posição.
Ficam algumas coisas por explicar. A conclusão é bastante surpreendente, fugindo ao clássico final em que o mistério é resolvido, todas as circunstâncias passam a fazer sentido e os "maus" sofrem as consequências dos seus actos. Neste caso, tratando-se de uma situação bastante mais complexa, é uma visão bastante mais realista e que levanta algumas questões bastante interessantes a forma como as informações adquiridas são geridas pelas autoridades. Ainda assim, fica uma certa curiosidade ante as coisas que ficaram por explicar, bem como a sensação de que um pouco mais poderia ser dito a esse respeito.
Uma leitura interessante, ainda que bastante exigente em termos de atenção (principalmente devido às múltiplas questões políticas abordadas), num livro em que o enredo deixa a história pessoal das personagens para segundo plano, mas onde a curiosidade em saber como seria possível resolver uma tão complexa situação acaba por se manter constante.

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