segunda-feira, 28 de março de 2011

Passion Play (Beth Bernobich)

Therez Zhalina é a filha de um importante comerciante, mas, aos olhos do seu pai, ela não passa de mais um objecto a negociar pelo preço adequado. Assim, quando Petr Zhalina anuncia que está em vias de assinar um acordo de casamento, sem o consentimento de Therez, esta não vê outra opção que não a de fugir. Mas o caminho para a liberdade nunca é fácil, e Therez encontrará dor, mágoa e vergonha na sua busca por um novo destino. E, por fim, encontrar-se-á entre a salvação e a intriga, e acabará por aprender que o amor nunca é fácil quando o mundo está rodeado de traições e conspirações.
É-me difícil explicar o quanto este livro significou para mim, já que, em muitos aspectos, me comoveu a um nível muito pessoal. Há alguns aspectos, ainda assim, que podem ser mencionados sem estragar o prazer desta fascinante leitura.
Primeiro, este é um livro que apresenta um mundo fascinante. Toda a abordagem à magia, com os seus múltiplos usos em diferentes locais e condições, bem como a relação entre vidas passadas e acontecimentos presentes, serve de base a um conceito deveras intrigante. Além disso, há a complexa relação entre a corte oficial do rei e a corte pessoal estabelecida por Kosenmark, com todos os seus espiões e mensageiros, traições e oscilações de lealdade. Tudo pode ser abalado por uma mudança brusca, e isto torna-se progressivamente mais claro com o evoluir do enredo.
É interessante reparar na forma como a história evolui de um conflito muito pessoal (Therez na sua luta pela liberdade) para uma crescente relação de confiança (a partir do aparecimento de Kosenmark) e, depois, para uma situação mais complexa, onde as acções e interesses de ambos se tornam influentes no futuro do reino. As potencialidades de todos estes elementos são vastas e bem exploradas, e a melhor parte em tudo isto é que é inevitável a sensação de que, com a continuação da série, estes aspectos ganharão ainda uma maior força.
Devo referir, ainda assim, que o que mais me marcou ao longo desta leitura foram as personalidades dos protagonistas, bem como a sua relação. Therez (ou Ilse) vive a mais dura das experiências, o que torna a sua confiança numa dádiva de grande valor quando ela a decide conceder. Quanto a Kosenmark… Kosenmark é fascinante em todos os seus aspectos. O passado turbulento e a sua natureza atormentada justificam tanto a sua ocasional arrogância como a necessidade de agir. E, ainda que tenha, de facto, as suas falhas, tem também consciência dessas fragilidades, e não recua ante a necessidade de um pedido de desculpas. A personalidade e as atitudes de Kosenmark são, pois, bastante diferentes das de Ilse, e é isso que torna a relação entre ambos tão especial. Porque não se trata do habitual “amor à primeira vista”, que contempla apenas o melhor de cada um, mas um gradual evoluir de sentimentos, uma força emotiva que vê tanto o melhor como o pior de ambos.
Ainda um último aspecto a referir. Há algo de particularmente intenso e comovente nos capítulos finais, não apenas pelo que é deixado por dizer ou pela curiosidade em saber o que virá a seguir, mas principalmente pelo nítido contraste entre sentimentos e lealdades. Entre uma vontade pessoal e aquilo que tem de ser feito.
Uma leitura maravilhosa, feita de intriga e tristeza, amor e emoção, morte, mas também esperança. Fica, sem dúvida, a vontade de ler mais desta autora.

Nota: Tive oportunidade de ler este livro graças à organização dos David Gemmell Legend Awards. Obrigada!

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