sábado, 29 de janeiro de 2011

O Jardim dos Segredos (Kate Morton)

Todas as famílias têm os seus segredos. Mas os de algumas estendem-se ao ponto de marcar várias gerações. É o caso da origem de Nell, um mistério entrelaçado nas vidas e nas dificuldades de três mulheres, distantes no tempo, mas mais próximas do que qualquer delas, por si só, poderia imaginar. Uma criança abandonada num barco rumo a um destino distante. Uma mulher em busca das suas verdadeiras origens. E, mais tarde, a neta desta mesma mulher em busca do mistério por detrás de uma herança inesperada. E tudo isto ligado a uma autora de contos de fadas... com uma história que será tudo menos um conto de fadas.
A verdade é que não sei por onde começar a explicar o que me fascinou neste livro. Há tanto de maravilhoso nesta história - ou teia de histórias - que se torna difícil organizar correctamente as ideias. Mas algum ponto terá de ser o primeiro e, por isso, vou referir antes de mais o mais estranho e cativante deste livro. Temos protagonistas diferentes em épocas diferentes e a autora alterna constantemente entre essas diversas épocas, acompanhando o percurso de cada uma das mulheres. E é claro que isto parece uma ideia complexa e que o resultado poderia ser algo de confuso, mas o facto é que não é. De situação em situação, percorrendo os diferentes momentos da linha temporal de forma a criar e a manter um ambiente de constante mistério, a autora cria um percurso envolvente, um estímulo à curiosidade em conhecer mais destas histórias que têm como ponto de ligação um segredo que nunca é o que as revelações parecem indicar.
Claro que o grande segredo que une estas mulheres será o ponto principal de todo o enredo. Mas, para além das sucessivas revelações que tornam imprevisível a verdadeira dimensão do mistério, há uma certa faceta emotiva que marca até nos mais breves acontecimentos, tanto na inocência velada dos contos de fadas de Eliza Makepeace, como na sensação de perda irreparável na vida de Cassandra e também na certeza de "não pertencer" de Nell. Algo que se reflecte na força destas diferentes personalidades, na necessidade de agir, na coragem de fazer o que é certo, independentemente de como serão dolorosas as consequências.
Ainda de referir, claro, a forma como, depois de tantas surpresas e revelações, a narrativa atinge a sua conclusão. Se alguns momentos houve que apontavam para um final feliz, enquanto outros pareciam pressagiar uma tragédia inevitável, o mais intrigante, no final, é ver o modo como a autora conjuga estes elementos de uma forma... surpreendente.
Uma história envolvente, intensa, marcante e cheia de emoção... toda ela marcada também por uma escrita belíssima e de leitura agradável. Um romance mágico e comovente, que não posso deixar de recomendar. Lindíssimo.

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