sexta-feira, 28 de janeiro de 2011

Contos de Daphne du Maurier

Cinco contos, bastante diferentes em termos de temáticas e cenários, mas tendo como ponto comum uma certa imprevisibilidade, constituem este livro. Envolventes e cheios de surpresas, conjugam a dose certa de emoção com um certo nível de estranheza, principalmente a nível de personagens, e várias situações com muito de invulgar.
O primeiro conto é Não Olhes Agora, e conta como umas férias em Veneza, marcadas com o objectivo de estimular uma necessária recuperação da dolorosa perda de um filho, cedo se transformam num conflito entre o casal protagonista, quando estes conhecem duas idosas, uma das quais dotada de supostas capacidades mediúnicas. E, ainda que John não acredite nesta base sobrenatural, há estranhas coincidências a surgir e um assassino à solta na cidade. Inicialmente um pouco confuso, este é um conto que ganha envolvência devido à crescente intensidade dos acontecimentos, bem como à sensação de caos na própria mente do protagonista, sendo o auge atingido quando as tais capacidades mediúnicas revelam, numa conclusão inesperada, o seu verdadeiro valor.
Um Caso-Limite conta a história de Shelagh e de como, após a morte do pai, esta decide partir para a Irlanda em busca da explicação para alguns dos segredos do passado. Mas, mais uma vez, nada é o que parece: o homem que encontra está longe do indivíduo perturbado que Shelagh imaginara e os momentos que compartilha com este estranho serão, apesar da estranheza e do medo, bem mais interessantes do que seria de esperar. Um conto envolvente, muitíssimo bem apresentado e com a dose certa de emoção. Apesar de algumas reviravoltas mais improváveis, marca pelo final intenso e cheio de revelações.
Em Os Pássaros, tudo começa quando, numa noite ventosa, um bando de aves invade um quarto na casa de Nat. Essa noite, contudo, marcará apenas o início de um fenómeno de causas desconhecidas, que se transforma numa séria ameaça a nível global. Um conto intenso, cativante e algo angustiante no seu ritmo de crescente opressão numa luta sem grandes sinais de esperança. Pena o final demasiado aberto, deixando a nítida sensação de história inacabada.
Em O Velho, o narrador conta a um hipotético interlocutor a história de uma "família" peculiar. Interessante principalmente pela voz narrativa invulgar e pelo final surpreendente, ainda que esta visão parcial dos acontecimentos crie uma certa distância, ficando sempre a sensação de que um pouco mais haveria a dizer.
Por último, E as Cartas Dele Tornaram-se Mais Frias, apresenta uma sequência de cartas enviadas por um homem a uma mulher. Muito interessante o percurso desde o primeiro contacto à paixão avassaladora e, depois, ao progressivo afastamento, deixando à imaginação do leitor as possíveis reacções da parte da mulher.
Uma leitura interessante, em suma, bastante agradável e uma boa forma de descobrir a escrita desta autora, que, mesmo nos contos em que parece ficar em falta algo de revelador para a história, fascina pela sua harmonia e pela fluidez com que tanto descrições como sentimentos são apresentados.

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