sábado, 2 de outubro de 2010

Marina (Carlos Ruiz Zafón)

Cansado do aborrecimento do internato, Óscar Drai passa o seu tempo livre a explorar os locais mais interessantes de Barcelona. Mas, um dia, ao entrar numa casa que julga abandonada, Óscar apanha o susto da sua vida... e acaba por fugir com um relógio que não lhe pertence. Decidido a devolver o objecto, Óscar regressa à casa, onde conhecerá Marina, a rapariga que com ele embarcará num mistério estranho e de contornos sinistros... e que despertará no seu coração os mais fortes sentimentos.
Sempre ouvi dizer o melhor do trabalho deste autor, por isso foi com grande expectativa que comecei a leitura deste livro. E devo dizer, antes de mais, que todas as expectativas foram superadas! Com uma escrita estranhamente envolvente, que soa simples e harmoniosa, sem elaborações desnecessárias, mas, ainda assim, de uma intensidade poética, o autor conjuga na perfeição os elementos da inocência adolescente dos protagonistas e de um amor ainda pautado pela pureza, com a força compulsiva de um mistério onde o imprevisível, o macabro e o emotivo se juntam para criar um resultado intenso e surpreendente.
Há, no fundo, duas histórias que se entretecem neste livro. Uma é a do próprio Óscar e da forma como conhece Marina, criando simpatias com tudo o que com ela está relacionado, descobrindo a sua história, o passado dos seus familiares e o seu próprio segredo. A outra é a do mistério que estes jovens decidem desvendar, a de Mikhail e da sua luta contra as imperfeições da natureza, da necessidade insana e sem limites de encontrar, através de todas as experiências que forem necessárias, uma forma de silenciar os efeitos da doença e continuar a viver.
Interessante em todos os aspectos, é também pela força das suas personagens que esta história se torna marcante. Há insinuações de tragédia ao longo de todo o enredo, tanto nos segredos que Marina parece persistir em guardar como nos elementos que apontam para a estranha obsessão de Mikhail com as deformidades da natureza. Mas a forma como o autor apresenta os acontecimentos, conjugando as fases de narração com uma magnífica caracterização dos cenários e com uma constante mas não exagerada força sentimental resulta numa leitura que nunca se torna aborrecida, mas que mantém a expectativa (e até uma certa preocupação) quanto ao que irá acontecer aos principais intervenientes nesta história.
Intenso tanto na história como na força emotiva, belo na forma como as palavras se conjugam para criar toda uma voz narrativa que apela directamente ao coração do leitor, este é um daqueles livros capaz de fazer sentir, como se da nossa própria história se tratasse, o amor, a dor, a esperança e a resignação das personagens. E é isso, acima de tudo, que faz com que permaneça na memória.

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