quinta-feira, 4 de março de 2010

O Monte dos Vendavais (Emily Brontë)

Esta é a história de um amor obsessivo e sem contemplações, duro no seu poder, destrutivo na sua imensidade. Esta é a história da estranha ligação que, desde crianças, Catherine e Heathcliff estabelecem entre si, num mundo onde a sombra do ódio é a força omnipotente.
É difícil explicar com clareza o impacto que teve, para mim, a leitura deste livro. Desde a primeira página, esta é uma obra onde não há personagens de boa índole. A inocência é efémera, a compaixão é breve e os sentimentos que reinam são o ódio, o desejo de vingança, o desprezo e a obsessão da posse. E, contudo, neste ambiente de negrura praticamente constante, a autora apresenta-nos personagens que, em toda a sua malevolência, conseguem comover-nos e fascinar-nos, segundo os seus momentos e circunstâncias.
A escrita reflecte o mundo que a autora quis construir: forte e emotiva, quer na violência da vingança quer nos instantes de pura compaixão. E, em cada instante, apesar do estilo narrativo - em que a história nos é contada longos anos após grande parte do seu decorrer - a autora apresenta-nos uma visão de impacto, marcada por momentos poderosos, capazes de nos despertar simpatia até pelo mais odioso dos intervenientes nesta história.
Sombrio, obscuro, este é um livro onde a bondade ocupa muito pouco espaço. Não há heróis nem vilões, apenas reflexos - talvez exacerbados - do lado mais negro da natureza humana. E é esse o elemento que mais se reflecte, particularmente presente na natureza de Heathcliff: nem o mais odioso dos seres é completamente desprovido de sentimentos. Um livro invulgar, perturbador e intensamente negro, mas fascinante na sua estranha natureza. Adorei.

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